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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Pedro Medeiros


Cerca de 2,4 milhões de pessoas, em todo o mundo, sabem o que é ser vítima de tráfico sexual ou laboral, num negócio humilhante que rende milhões a quem o pratica. Para denunciar esta realidade, o fotógrafo Pedro Medeiros criou oito fotografias que nos acordam para uma verdade inconveniente: atualmente  há pessoas que são tratadas como se fossem objetos descartáveis.


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© Pedro Medeiros, "Mercadoria Humana".


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© Pedro Medeiros, "Mercadoria Humana".


Anualmente, o tráfico de pessoas gera cerca de 32 bilhões de dólares, isto a nível mundial. E no preciso momento em que o leitor lê estas palavras, estima-se que existam 2,4 milhões de pessoas que já foram vítimas de tráfico sexual ou laboral, sendo que 80 por cento delas destinaram-se a alimentar as redes internacionais de prostituição. Os trabalhos forçados e a semi-escravatura, em setores como os serviços domésticos, a construção civil, as indústrias têxtil e alimentar, a agricultura ou a pesca, preenchem 17 por cento do total.

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© Pedro Medeiros, "Mercadoria Humana".


Os dados são da UNODC, a agência da ONU para as Drogas e Crimes, a qual admite que estamos perante um cenário “degradante e humilhante” que assola quase todos os países do globo – seja como ponto de origem, trânsito ou destino. As mulheres acabam por ser as mais afetadas, perfazendo dois terços das pessoas traficadas.

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© Pedro Medeiros, "Mercadoria Humana".


Fechar os olhos não é solução
Em diversos relatórios internacionais, Portugal surge como um país de destino para o tráfico sexual, sendo que grande parte dele provém do Brasil. Mas no que se refere ao tráfico laboral, já surge como país de destino e origem. Com o agravar da crise econômica e financeira estes fenômenos tendem a agravar-se.
Para combater este flagelo, os projetos de sensibilização assumem-se como ferramentas imprescindíveis, como o que foi desenvolvido pelo fotógrafo Pedro Medeiros, a convite da associação Saúde em Português. Assim surgiu a instalação fotográfica “Mercadoria Humana”, composta por oito imagens que colocam o dedo na ferida e que pretendem “contribuir para o apoio às vítimas, a detecção de casos de tráfico humano, a denúncia de opressores e para uma maior informação e consciencialização sobre o tráfico de seres humanos”, sintetiza o fotógrafo português. Essencialmente, a ideia passa por gerar “um processo de responsabilização pública junto do maior número possível de cidadãos”, pois estamos perante um problema que não pode continuar a ser ignorado por quem sabe que ele existe.

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© Pedro Medeiros, "Mercadoria Humana".


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© Pedro Medeiros, "Mercadoria Humana".


A instalação esteve presente, ao longo de 2011, nas ruas e locais públicos da cidade de Coimbra, nomeadamente em formato mupi, cartaz ou flyer, numa “apropriação da linguagem utilizada nos meios publicitários da sociedade de consumo”. O objetivo passou por chegar ao maior número de pessoas e fazê-las interrogar-se e pensar, ao mesmo tempo que procurou incentivar a denúncia de casos – daí que não tenha sido inocente a inclusão, nas imagens que estavam espalhadas pela cidade, do número de telefone das entidades que dão apoio às vítimas.
“Existe um vazio, nas imagens do projeto Mercadoria Humana, que reproduz a frieza da nossa impotência”, salienta o antropólogo Ricardo Salgado, num texto de apresentação que escreveu para a obra. “Esta impotência multiplica-se facilmente através do descartar de responsabilidades, apesar de ser natural que nos consideremos como inconscientes de algo visto como ausente, por outras palavras, visto como um tabu supremo”. Todavia, esta série de fotografias, que esteve à vista de qualquer cidadão e que está agora acessível no website da Comissão Europeia, tem precisamente o condão de providenciar o contrário, de levar cada pessoa a refletir na realidade que é retratada, instigando-a a criticar e denunciar, colocando assim o germe para que se tomem ações futuras contra essa mesma realidade.

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© Pedro Medeiros, "Mercadoria Humana".


Apesar de também desenvolver trabalhos noutros âmbitos, Pedro Medeiros não nega que os seus projetos seguem um fio condutor, o de “instrumento de intervenção humana e social”. Todavia, considera importante que se interligue o trabalho que se faz com o contexto em que se está imiscuído, ou não fossemos nós criaturas do tempo, do espaço e das circunstâncias em que vivemos.
Tal como explica, “a procura de uma linguagem fotográfica, ou a criação de um discurso, sendo uma viagem solitária, constrói-se em permanente experimentação, partilha e comunicação com outras áreas, no tempo e na sociedade da qual fazemos parte”. Uma visão mais abrangente, portanto, capaz de captar e denunciar os problemas de um mundo cada vez mais interconectado, interdependente e globalizado, mas em que os seres humanos ainda são tratados como simples mercadoria.

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© Pedro Medeiros, "Mercadoria Humana".


Texto: João Lobato
fonte: Obvius

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