URBANASVARIEDADES.BLOGSPOT.COM

O modo long-play do Urbanascidades, desde 02.02.2012.
Blog cultural e artístico de produção coletiva. Seja um colaborador enviando artigos, cronicas, poemas, contos, ensaios e qualquer outro tipo de manifestação artística literária ou cultural. Não avaliamos ou censuramos textos, a anarquia e a contestação são incentivadas, dentro do politicamente correto. Discriminações, agressões, palavrões e outros "ões" ofensivos não serão aceitos.
Por que Long Play? Versão mais "cool", para ser saboreada ao som de um "smooth jazz", com textos que aprofundam os temas, para Urbanautas que tem um tempinho a mais.

Envie as suas produções para urbanascidades@gmail.com.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Caspar Friedrich

Caspar, filosofia, Friedrich, paisagem, romantismo, sublime
© Casper Friedrich, "Monge Diante do Mar".
A expressão da interioridade era o foco de Caspar (1774-1840), como ele escreveu em sua coleção de aforismos: "Fecha teu olho corpóreo para que possas antes ver tua pintura com o olho do espírito. Então traz para a luz do dia o que viste na escuridão, para que a obra possa repercutir nos outros de fora para dentro". Esse aforismo revela a pretensão romântica de Caspar: produzir no observador esse arrebatamento de emoções que a cena na obra estimula.
Em Monge diante do mar (1810), um de seus quadros mais conhecidos, vemos a grandiosidade do céu, do mar, do deserto do homem que observa a imensidão. A solidão diante da vida, a angústia diante do belo, o temor de entregar-se ao desconhecido dentro de si. A natureza revela e conduz para dentro de si, manifesta o desejo de ser maior para conseguir suportar sentimentos tão bravos quanto o mar que expressa sua fúria nas ondas. Um mar negro que arrebata o homem, pequenino, diante da imensidão. O céu, acima, é invadido pelo negro das águas que respingam mas, logo depois, as nuvens cedem espaço à luz. Ela, que revela a mais forte tempestade também estará ali, depois de tudo, indicando que tudo não passa de um momento, uma fúria e sua escuridão, cada homem com o seu mar.
Caspar, filosofia, Friedrich, paisagem, romantismo, sublime
© Casper Friedrich, "O Peregrino Sobre o Mar de Brumas".
Um outro quadro famoso, O peregrino sobre o mar de brumas (1818), mostra um jovem sobre um rochedo negro a olhar não para o horizonte, mas para baixo, para as brumas. A natureza, em sua imensidão, é convidativa. Não vemos a face do jovem, estamos junto a ele nas pedras sobre a neblina. Há o temor e a vontade de ser mais. Um jovem herói romântico que luta contra seus sentimentos, contra o suave chamar da natureza - que não é humana, mas está em cada um, que convida a ser mais do que se é. O retorno para a imensidão que salva ao abrir as portas do ilimitado. Quanta beleza nas alturas, sobre as nuvens, na solidão. Quanta angústia por estar só e por notar a pequeneza diante da montanha. Seria uma linda paisagem se o pintor não impusesse ao espectador a partilha dos pensamentos do rapaz. Somos cúmplices sobre a montanha, somos peregrinos que se encontram e estão de passagem pela névoa que encobre os dias.
Obras como estas são representações do sublime: expõem a grandiosidade da natureza em forças tão belas que chegam a aterrorizar. Esse foi um tema da filosofia romântica por excelência. Explorou o feio como meio de expor o arrebatamento dos sentimentos humanos. A imensidão da natureza e suas forças foram utilizadas como metáfora para os sentimentos dos jovens românticos. O romântico que a arte de Caspar Friedrich revela em suas paisagens simboliza a cumplicidade do homem com as forças maiores que ele, isto é, com o sublime - entendido como “feio” nos escritos filosófico-estéticos por não ser uma expressão do belo que agrada e que produz boas sensações no público, ao contrário.
Caspar, filosofia, Friedrich, paisagem, romantismo, sublime
© Casper Friedrich, "Casal Contemplando a Lua".
Caspar é famoso pelas paisagens onde retratava o mundo que lhe importava: montanhas, penhascos, mares e tudo que conduzisse o olhar para muito além do perto, do conhecido. Ele desejava o horizonte, e esse é um tema que a todo homem comove, pois desde sempre desejamos o desconhecido, as terras de além-mar, os reinos distantes do aqui, o que há depois da montanha. Somos todos românticos por natureza? Isso é reflexão para cada um. O interessante é como a natureza retratada em sua grandiosidade nos inebria e amedronta. Queremos ir o mais longe possível sem deixar de desejar a segurança ilusória de ficar para sempre em um só lugar. Os sentimentos humanos são maiores do que um corpo poderia suportar. Talvez por isso Caspar Friedrich tenha tido o cuidado de não incorporar seus homens e mulheres na obra, mas de colocá-los como observadores dela, como todos nós diante de sua janela: queremos quebrar as vidraças e sair voando para as nuvens, mas sempre acabamos por fechar as persianas.
Caspar, filosofia, Friedrich, paisagem, romantismo, sublime
© Casper Friedrich, "Mulher Diante da Aurora".
Caspar, filosofia, Friedrich, paisagem, romantismo, sublime
© Casper Friedrich, "O Caçador na Floresta".


Texto: Larissa Couto
imagens: obvius

Nenhum comentário:

As matérias de opinião publicadas neste blog são livremente inspiradas em pesquisas na internet e em bibliografias diversas. As imagens são da internet e de outros blogs. O urbanasvariedades valoriza e respeita o direito de propriedade mas eventualmente não é possível determinar a autoria destas imagens. Caso acidentalmente ocorra a omissão ou seja citada incorretamente a autoria, entre em contato para que possamos efetuar as correções.
Os textos produzidos pelos colaboradores são de inteira responsabilidade dos mesmos.