Depoimentos sobre Oscar Niemeyer
De
Lelé a Ferreira Gullar, de Christian de Portzamparc a Norman Foster: o
que arquitetos e personalidades falam sobre Niemeyer. Dê também o seu
depoimento
Arquitetos
e personalidades do Brasil e do exterior dão seu depoimento sobre a
obra e vida de Oscar Niemeyer e como o arquiteto os influenciou. Os
depoimentos foram concedidos em 2007, quando o arquiteto completou 100
anos e a revista AU fez uma edição especial em homenagem ao mestre.
Leitores e internautas também podem participar com sua opinião sobre
Oscar Niemeyer.
"Oscar
é um dos grandes gênios do nosso tempo. Sua incrível capacidade de
criação não se apoia em teorias nem na estética vigente, mas na
intuição, na lógica da natureza, no instinto das mentes privilegiadas
dos gênios. Por isso, sua obra é capaz de emocionar qualquer ser humano,
independentemente de sua formação intelectual ou categoria social. As
colunas do Palácio da Alvorada, por exemplo, causaram tão forte
impressão em André Malraux que ele comparou sua contribuição à
arquitetura a das colunas gregas. Mas elas foram igualmente absorvidas e
estilizadas pelo povo em geral - seu desenho pode ser observado em toda
parte e continua a ser utilizado como símbolo da nova capital."
João Filgueiras Lima, Lelé, arquiteto
"Viva Oscar Niemeyer. Artista
genial. Realizador notável. Construtor de palácios celestiais e casas
para a felicidade. A beleza não é segredo para ele. Sua obra se confunde
com a própria cultura brasileira. Viva Oscar Niemeyer, um dos maiores
arquitetos de todos os tempos."
Mario Biselli, arquiteto
"Se é certo -
como acredito - que nós, homens, inventamos a vida, o mundo imaginário
em que habitamos, Oscar Niemeyer é um dos que mais contribuíram para
isso, inventando uma arquitetura que parece nascida do sonho e, com
isso, nos ajuda a viver."
Ferreira Gullar, poeta e escritor
"Por anos, sentindo sempre uma
grande emoção, procurei compreender o mistério de Oscar Niemeyer.
Paisagem, erotismo, ética; empenho político e social; afeto e fidelidade
aos amigos de sempre; a música brasileira, Rio de Janeiro visto de seu
escritório. Creio que a alquimia que Niemeyer criou ficará com tudo
isso, junto ao desejo de ser sempre parte de um processo e de empenho
civil. Nunca desejei me parecer com nenhum arquiteto, a não ser com
Oscar Niemeyer."
Massimiliano Fuksas, arquiteto
"Oscar
Niemeyer é um poeta do espaço, um arquiteto-escultor que pensa e
organiza o espaço habitado num diálogo fecundo com a natureza. A curva, a
ondulação, o côncavo e o convexo, tudo isso faz parte de seus desenhos.
É como se a sinuosidade da natureza fosse repensada e reinventada pelos
traços do arquiteto, cujo pensamento ou concepção da arte nunca separa o
ser humano do ambiente em que vive. A ousadia da forma parece desafiar a
engenharia e o cálculo estrutural, mas é essa ousadia que dá a seus
projetos um sentido plástico singular na arquitetura do século 20."
Milton Hatoum, escritor
"Oscar Niemeyer, em 1943, ao
projetar o conjunto da Pampulha, assombrava o mundo e iniciava a bonita
trajetória de uma arquitetura inovadora e peculiar. Hoje, aos 100 anos
de idade, continua produzindo. Procura atender a convites que vêm de
todas as partes do mundo. Sempre novos desafios que o gênio de Niemeyer
desenha com incrível rapidez. Simplicidade de solução que se funde à
beleza surpreendente."
Ruy Ohtake, arquiteto
"Oscar,
quando me formei em 1949 pela Faculdade Nacional de Arquitetura, você
representava o símbolo e expressão da arquitetura brasileira. Hoje,
quando completa cem anos, continua sendo. Parabéns."
Acácio Gil Borsoi, arquiteto
"Oscar Niemeyer tem o raro talento
da longevidade criativa e intelectual, o que representa muito mais do
que o feito já notável de completar 100 anos e em atividade. Niemeyer
construiu um percurso baseado na especulação da visibilidade das
estruturas e das formas, em sua relação com a espacialidade, e sobre ele
abriu uma porta que ao que parece jamais será fechada. Sua importância
para a história da arquitetura moderna já está talvez sublimada pela
influência que seu trabalho exerceu na própria arquitetura
contemporânea, com paralelo identificável, talvez somente em Le
Corbusier e Mies Van Der Röhe. Certa vez, Chico Buarque de Holanda ao
falar de sua obra musical, disse que esta já era uma obra pronta e só o
que poderia fazer era reelaborá-la. Com sua frenética atividade ainda
nos perguntamos: será que Oscar já completou a sua?"
Francisco Spadoni, arquiteto
"Um dia,
comecei a ver o mundo a cada instante de um modo diferente. O que fazer?
Tornar-me um sonhador ativo? Um arquiteto brasileiro? Como para muitos,
Oscar Niemeyer me abriu os olhos. Ele mostrou como a arquitetura
poderia, apurando-se, aliar no mais alto nível o racional e o sensível, o
rigor e a forma."
Christian de Portzamparc, arquiteto
"Para os arquitetos criados pelo
movimento moderno, Oscar Niemeyer posiciona-se no mais alto grau de
sabedoria. Invertendo o ditado familiar de que 'forma segue a função',
Niemeyer demonstrou que 'quando a forma cria beleza, ela se transforma
em funcional, e, portanto, fundamental na arquitetura'.
Dizem que Yuri Gagarin, o pioneiro
cosmonauta russo, visitou Brasília e comparou a experiência com
aterrissar em um planeta diferente. Muitas pessoas quando vêem a cidade
de Niemeyer pela primeira vez devem sentir o mesmo. É audaciosa,
escultural, colorida e livre - e não se compara a nada que se tenha
feito antes. Poucos arquitetos na história recente têm sido capazes de
convocar tal vocabulário vibrante e estruturá-lo em tal linguagem
tectônica brilhantemente comunicativa e sedutora.
Não se pode contemplar a catedral
em forma de coroa, em Brasília, sem ser captado tanto pelo seu dinamismo
formal quanto por sua economia estrutural, que se combinam para causar a
sensação de algo quase sem peso, pois o fechamento parece se dissolver
inteiro em vidro. E qual arquiteto pode resistir em tentar descobrir
como as colunas-ossos de concreto do Palácio da Alvorada são capazes de
tocar o solo tão levemente. Brasília não é simplesmente desenhada, é
coreografada: cada uma das suas peças fluidamente compostas parecem
parar como um dançarino congelado em um momento de absoluto equilíbrio.
Estudante no início da década de
1960, olhei para o trabalho de Niemeyer como um estímulo, analisando com
cuidado os desenhos de cada novo projeto. Quarenta anos depois, ele
ainda tem o poder de nos surpreender.
O Museu de Niterói é um bom
exemplo. Posicionado no promontório rochoso como uma planta exótica, ele
despedaça o convencional justapondo arte com uma vista panorâmica do
porto do Rio. É como se, em sua mente, ele tivesse esmagado nas rochas
abaixo a convencional caixa da galeria, e nos desafiado a enxergar arte e
natureza como duas coisas iguais.
Oscar Niemeyer é uma inspiração.
Sua energia e criatividade não têm fronteiras, sua arquitetura é
eternamente jovem. Ele tem, eu sinto, muitas lições de arquitetura ainda
para nos mostrar."
Sir Norman Foster, arquiteto
"A
personalidade e a produção profissional de Oscar Niemeyer vêm sendo
superadas, ainda durante sua vida, pelo mito e pela entidade em que se
transformou.
De forma
quase inédita na história das culturas livres no Brasil, seu pensamento,
sua produção e sua ação encontram-se virtualmente imunizados em relação
à crítica e à opinião, sejam públicas ou profissionais.
Com o tempo será mais fácil avaliar
objetivamente o que sua atuação aportou ao desenvolvimento de nossa
arquitetura e seu papel como principal expressão de nossa
fragilizadíssima comunidade profissional."
Jorge Königsberger, arquiteto
"O discurso de Niemeyer é
incoerente com seus contratos profissionais originários de inaceitável
reserva oficial de mercado - desde Juscelino Kubitschek, em 1960 - e com
a sua arquitetura, que desconhece a função social inerente."
Joaquim Guedes, arquiteto
"Oscar
Niemeyer para mim é uma espécie de poeta de arquitetura. Livre, leve,
sinuosa, genuína e elegante, a sua arquitetura tem uma sensualidade e
uma brasilidade únicas. Saint Exupéry dizia: 'É útil, porque é bonito.'
Assim é a arquitetura do Oscar Niemeyer (como todos nós, arquitetos, o
chamamos carinhosamente pelo seu prenome e não pelo seu nome
profissional). Paul Valéry dizia: 'Muitos prédios são silenciosos, mas
alguns cantam' e os do Oscar Niemeyer têm uma música própria e linda. Eu
o definiria e a seu trabalho como imortais (como todos os grandes e
atemporais)."
fonte: revista AUÍndio da Costa, arquiteto e designer
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