Nas duas edições do anteriores do Dia do Rock, o Urbanascidades apresentou em 2010 a História do Rock dos 50' aos 2000' (CLIQUE AQUI) e em 2011 o Rock em Países alternativos como Afeganistão, Dinamarca, Bósnia, Croácia e Iraque (CLIQUE AQUI).
Em 2012 vamos apresentar uma pequena história do Rock gaúcho e seus representantes, muitos dos quais já passaram pelas "páginas" do nosso blog. Com a ajuda do amigo Rogério Ratner e do livro "A música de Porto Alegre", do jornalista Gilmar Eitelvain, pesquisas na internet e minha história pessoal foi possível uma breve e despretensiosa radiografia do rock gaúcho.
Até
1963, com a chegada dos Beatles, a cena musical em Porto Alegre reproduzia a
década anterior. Era dominada pelos conjuntos melódicos qua animavam bailes e
festas. Os crooners enriqueciam seus repertórios com canções de Frank Sinatra,
Bing Crosby, tangos de Gardel, blues de Nat King Cole, instrumentais de Glenn
Miller, musica italiana romântica e sambas. Os melódicos mais famosos eram o “Norberto
Baudalf”, O “Renato e seu Conjunto”, “O Flamboyant” e o “Flamingo”. O conjunto “Poposky e seus Melódicos” foi
criado em cima do sucesso do “Balanço das Horas” e de Bill Halley. Outros
conjuntos que acompanharam a nova onda foram o “Stardust” de Manfredo Fest e o “Melódico
Mocambo”, formado por jovens entre 13 e 19 anos.
Nas festas, musicas mais avançadas como de Ronnie
Cord e Eduardo Araújo, The Clevers (depois Os Incríveis). A Jovem Guarda não
teve muita influencia em Porto Alegre, pois era considerada pobre, brega e suas
versões sem criatividade.
A garotada que teve sua iniciação ao som de Elvis
Presley estava mais afim de bossa nova. Nas festas começavam a aparecer os primeiros
quartetos inspirados nas bandas inglesas e americanas instrumentais como The Ventures e The
Shadows. Eram bandas como “Os Brasas”, “Os Cleans”, “Os Satânicos” (depois Som
4) e o Liverpool.
Em 1964 os 3 primeiros discos do Beatles animavam toda e qualquer festa
na cidade. Com a chegada do filme "Os Reis do Iê-Iê-Iê" (A Hard's
Days Night) , a febre que impulsionou o maior fenômeno musical já visto por
estas terras explodiria. Três anos depois, em 67, um levantamento catalogou
aproximadamente uma centena de conjuntos e bandas atuando profissionalmente,
apenas na capital: The Brazilian Beatles, The Best, Os Minis, The Coiners, The
Dazzles, The Silvers, The Hoolygans, The Handsonnes, The Saylors, The Dragons,
The Clevers, Os Felinos, As Brasas e As Andorinhas (ambos só de mulheres), Os
Maníacos, Os Boinas Azuis, The Baby's, Alfa & Beta, The Thunder's, Os
Tímidos, The Kinds, Os Incendiários, Os Alucinantes, The Robinsons, Os
Corsários, The Tigers, Os Corujas, Os Morcegos, etc...
Havia público e muito trabalho, mas não havia imprensa, gravadorase “business” para sustentar o mercado. Muitos como Maritza Fabiani (cover de Wanderléia) subiram para o Rio e São Paulo.
Havia público e muito trabalho, mas não havia imprensa, gravadorase “business” para sustentar o mercado. Muitos como Maritza Fabiani (cover de Wanderléia) subiram para o Rio e São Paulo.
A recém
inaugurada Tv Piratini apresentava “Os Brasas” em programas de auditório, o “Liverpool" apresentava-se na Gaúcha e na Difusora “Os Dazzles”.
Com os Festivais de MPB crio-se uma disputa
entre a turma do Rock e da MPB. A composição pop rock apareceu nos Festivais dos
Colégios Israelita e Bom Conselho em 65 e 66 e depois na Arquitetura em 67 e
68.
Os “Cleans”, surgido em 1962 no Bairro Glória,
formado por estudantes de 18 e 20 anos, fazendo rock instrumental com guitarras,
e os “Brasas”, na mesma época, no
Partenon, com o nome de “Os Jetsons”, liderado por um guitarrista de 15 anos
chamado Luiz Wagner. Os Cleans ficaram em segundo lugar na etapa nacional de um
Festival de conjuntos de Jovem Guarda em 66, gravando 3 compactos
posteriormente. Na volta fizeram uma fusão com “Os Dazzles” e “The Coiners”
para tocar em bailes. Os Brasas também subiram para o centro do país e lançaram
algusn compactos e um LP em 68.
Em 1963, nas esquinas da Cidade Baixa,
reuniam-se para tocar violão Hermes Aquino (o da Nuvem Passageira), Cláudio Vera
Cruz e Renato Rodrigues, que formariam “Os Satânicos” e mais tarde o “Som 4”.
Um garoto chamado Carlinhos Hartlieb também participava dessas rodas de som.
No IAPI a mesma história acontecia com uma turam
composta pelos irmãos Milton (Mimi) e Marcos Lessa, Marco Antônio Luz (O Marquinho,
também conhecido como Foguete), Vilmar Santana (Pekos) e Edson Espíndola, o Edinho.
Os garotos do IAPI faziam rodas de samba. O Liverpool já existia e era dirigido
por um tal de Carruíra, baixista que morava nas imediações da Assis Brasil.
Como todos os outros grupos, tocavam em festas. Mimi Lessa arranhava uma
guitarra no The Best e Os Minis, pequenos conjuntos da zona norte. Carruíra
convidou Mimi para tocar no Liverpool e aceitou que este levasse junto o irmão
Marcos e o amigo- cantor Marquinho. Quando Carruíra desistiu do grupo, Pecos e
Edinho vieram completar o grupo. Cem por cento IAPI. O Liverpool continuava
animando bailes, mas eles estavam antenados ao que acontecia no país e
ensaiavam com dedicação, no clube da empresa Zivi, no Passo da Areia. Em 68, o
Liverpool participou do II Festival de MPB da Arquitetura, defendendo "Por
Favor Sucesso", de Carlinhos Hartlieb. Venceu e ganhou o direito de
participar do Festival Internacional da Canção no Rio de Janeiro.
Em 1970, John Lennon anunciava: o sonho acabou! As mortes de grandes
ídolos sinalizavam o excesso, na trilha da interminável viagem. No Brasil a dicotomia
entre o “debunde” e a luta contra a repressão. Não havia palco para as bandas,
nem gravadoras, nem como investir em bons instrumentos, sonorização e
iluminação. A banda mias importante da década, o “Bixo da Seda”, gravaria
somente em 1976. Em 1972, o primeiro festival de rock no Julinho (Colégio Júlio
de Castilhos. No mesmo ano o Musipuc, no campus da Pontifícia Universidade
Católica, desdobramento dos festivais da Arquitetura da UFRGS. Mais voltado
para a MPB, sua 4ª edição em 1975, revelaria uma nova geração de músicos e
compositores: Almôndegas, Inconsciente Coletivo, Gilberto Travi, Zezinho Athanazio
e Léo Ferlauto.
O Teatro São Pedro abrigava shows de bandas como Liverpool e Saudade
Instantanea, o primeiro Musicpuc, e a mostra de música do cursinho IPV. O Clube
de Cultura (Ramiro Barcelos) O teatro de Arena (onde Carlinhos Hartlieb
promovia as suas míticas “Rodas de Som”), o Auditório Araújo Vianna para apresentações
coletivas e festivais e, para quem tinha melhores condições, como o Bixo da
Seda, o Teatro Leopoldina. Os auditórios de colégios como o do Julinho e o do
Rosário abrigavam shows e promoviam festivais de rock. Centros acadêmicos de
Universidades como o da Engenharia, da Arquitetura, ambos da Ufrgs realizavam
eventos musicais. Clubes como o Grêmio Náutico União, e o ginásio da Brigada Militar
cediam seus espaços para eventos deste tipo.
Nas festas, ouvia-se em discos ou “covers” de bandas que fizeram a travessia da década tocando em bailes – sons de Santana, Joe Cocker, The Who, CSN&Y , Bob Dylan e outros.
A rádio Continental AM introduziu uma linguagem arejada, abrindo espaço
para que os grupos locais mostrassem seus trabalhos. Os auditórios da Assembleia
Legislativa, da Faculdade de Arquitetura, o Teatro Leopoldina, o Teatro de Camara
e o Clube de Cultura abrigavam shows variados, coletivos e individuais. A
grande imprensa (Correio do Povo, Folha da Tarde e Zero Hora) começava a abrir
espaços em reportagens especiais. A partir desse novo cenário, firmaram-se em
Porto Alegre grupos como: Byzarro, Utopia, Mantra, Cálculo Quatro, Halai Halai,
A Barra do Porto, Bobo da Corte, Metamorfose, Flor de Cactus, Em Palpos de
Aranha, Alma de Borracha, Khaos, Zacarias, Caixa de Espelhos, Auge Perplexo,
Funeral, Alma de Borracha, Prisma, Brick, Trilha do Sol, Grupo Latino, Trector
II, a Banda do Tarta, Alma e sangue, Sexto Sentido, Demian, Kariman (de Santa Maria),
Farinha de Bruxo (de Rio Grande), Flor de Cactus (de São Leopoldo), Labaredas
(de Pelotas), e vários compositores.
Todo este movimento culminou nos concertos “Vivendo a vida de Lee” do
apresentador da Rádio Continental Júlio First o “Mister Lee”, em ambientes
fechados como o Teatro Presidente, onde aconteceu o primeiro , em 1975, com 43
músicos em várias formações e teatro lotado. Depois do sucesso, novos shows no
Presidente, no Teatro Leopoldina e no auditório Araújo Vianna, sempre lotados,
os maiores eventos de música pop dos
anos 75 e 76.
Nesta
esteira surgiram muitas outras bandas e influencias, como o blues das bandas
Trovão e Rola Blues. A crítica nacional elegeu o Bixo da Seda, herdeiro da
banda Liverpool, a maior banda de rock do país em 76.
Apesar de todo o sucesso, a indústria do rock ainda não conseguiria se consolidar no sul. Laranja Mecânica, Lobos da Rua, Kachimbus e Swing deixaram algumas lembranças na segunda metade da década de 70. Os espaços foram sendo ocupados pela turma que fazia a ponte entre a MPB, o regionalismo e o rock. Carlinhos Hartlieb, Bebeto Alves e Cláudio Vera Cruz eram alguns de seus representantes.
Com a explosão ocorrida no mercado musical brasileiro nos anos 80, ocorreu o surgimento de muitas bandas no universo rock, e outras que já vinham dos anos 70 retomaram o sucesso. Aqui no sul não foi diferente, com músicos como o Alemão Ronaldo, que participou de uma das últimas formações do Bixo da Seda e integrou, nos 80 o Taranatiriça e foi vocalista do Bandaliera e do Guerrilheiro Anti-nuclear.
O grupo Impacto (união de integrantes do The Cleans,
The Dazzles e The Coiners) lançou nesta década vários discos.
Alguns compositores vinculados a MPG (música popular
gaúcha) como Nei Lisboa, Léo Ferlauto Júlio Reny e Bebeto Alves criaram hits
rockeiros, com grande sucesso.
O surgimento da Ipanema FM (que iniciou como
Bandeirantes FM) foi um grande marco tornando-se a “rádio rock” de Porto Alegre.
Abriu espaço para bandas de diversos estilos no cenário do rock gaúcho, como as
“stoneanas” (Taranatiriça/Garotos da Rua), new wave punk (Urubu Rei), punk
(Frutos da Crise/Fluxo/Replicantes), blues (Moreirinha e seus suspiram blues),
e metal (Valhala/Leviaethan/Astaroth). Outras bandas como o TNT, De Falla, Os
Eles, Produto Urbano, Prize, Os Bonitos, Atahualpa e os Panques, Banda de Banda
também circularam pela rádio e por nossos ouvidos.
Os Engenheiros do Hawaii e a banda Nenhum de Nós, com
maior sucesso comercial entre aquelas surgidas nos anos 80 continuaram sua
trajetória ao longo das outras décadas.
Também devemos lembrar de bandas como Colarinhos
Caóticos, Paralelo 30, Portal da Cor, Metrópole, Apollus Band, Ptize,
Apartheid, Cascavelletes, Justa Causa, Procurado Vulgo, 525, Cinzas, Fluxo M,
Surubanda, Espelho das águas, Apocalypse, Banda Absurda, Fuga, Sócios do
Silencio, Prole Proibida, Pupilas Dilatadas, Estado das Coisas, Graforréia
Xilarmônica, Rosa Tattoada, Barata Oriental, Os Totais, Irmãos Brothers.
Nos anos 90 o rock gaúcho continuou a trilha ascendente da década passada, apesar do recolhimento à nível nacional. Continuaram ocorrendo o surgimento de novas formações, a aproximação com os outros estilos musicais hip-hop, funk, soul, mpb, regionalismo, som pesado, reggae, etc...) foi sendo reforçada. Com a sedimentação do cd e das novas tecnologias, a oportunidade de lançar em selos independentes seus trabalhos facilitou o registro e consolidação de muitas bandas.
O relançamento de "clássicos" de bandas como Garotos da Rua, TNT, De Falla e Replicantes em CD possibilitou a toda uma nova geração de fãs do rock conhecerem e curtirem os trabalhos.
Muitos artistas das bandas dos 80 também partiram para carreiras-solo ou iniciaram novas formações como Jupiter Aplle, Flu, Nei Van Sória, Márcio Petracco, Júlio Reny, Frank Jorge, Wander Wildner, Bebeco Garcia, Marcelo Birck, Plato Divorak, Egisto Dal Santo, Jimi Joe, etc...
Com o fortalecimento do selo Antidoto, da gravadora ACIT, foram colocados em evidencia Maria do Relento, Solon Fishbone, Papas da Língua, Ultramen, Comunidade Nin-Jitsu, Tequila Baby, Armandinho, Bidê ou Balde, Cidadão Quem, Nenhum de Nós, Acústicos e Valvulados, entre outros. A Orbeat, selo da RBS surgido posteriormente lançou bandas como Hard Working Band, Foxy Lady, Diretoria, etc...
A grande maioria das bandas dos 90 não conseguiu se consolidar no mercado nacional, centrando o foco no mercado de música do sul, e pelo fortalecimento da imagem e do público, alçar voos mais altos.
No novo século, o rock gaúcho continuou experimentando uma crescente ebulição, com a consolidação de diversas bandas e artistas surgidos nas décadas anteriores. Duas bandas se destacam no cenário nacional nos 2000: Cachorro Grande e Fresno. A lista de bandas e artistas que fazem sucesso no século XXI aqui no Sul e enorme e inclui entre outros ( desculpem-me antecipadamente os não citados) Harmadilha, Doidivanas, Aquaplay, Doce Veneno (de Santa Maria), Mama Bujii, Ismália, Horácios, Texugos e Bêbados, Os Náufragos, Irmãos Rocha, Pata de Elefante.
Continua com Frank Solari, Fuga, Gallaxy Trio, Gaspo e Oly Junior, Gordini Fuçado, Ópera Bufa, Saltimantra, Lecco Ferrara e os Coiotes, Cinza e azul noite, Zé do Bêlo, Sindicato do Blues, Os Puta Merda, Sweet Beetle Juice, Nada Público, Identidade...
Claro que muitas bandas e compositores não foram lembrados, alguns dos leitores do Urbanascidades não gostaram de muitos dos selecionados, mas a minha intenção foi apresentar um painel do selo ROCK GAÚCHO, que tem trazido para a cena musical do sul e do Brasil artistas e propostas inovadoras, uma música com identidade própria e raízes culturais, que consegue misturar o regional com a inovação, a experimentação com a poesia, absorvendo os estilos que vem de fora e os transformando com uma linguagem única, que "geralmente" não se vende aos apelos do mercado e da mídia, sendo um dos motivos pelos quais uma música de tão boa qualidade e diversidade não se transforma em um movimento e rompe a fronteira do Mampituba (rio que separa o Rio Grande de Santa Catarina).
Os músicos da nossa terra conseguem ter um reconhecimento do nosso público, e fazem música por "amor à camiseta" mas, muito pela formação de nosso povo e pelo clima em que vivemos, preferimos a introspecção e o enclausuramento, um viés meio separatista e auto-suficiente, uma "mania de grandeza" que caracteriza o gaúcho. E, por que não confessar, um espírito um pouco autofágico, uma grande cesta de caranguejos que puxam para baixo os irmãos que estão subindo.
As perspectivas para esta segunda década do século são animadoras na música do sul, pois o ROCK e a MPG gaúchas tem demonstrado uma renovação e revigoramento constantes, revelando grande vitalidade.
E vamos continuar apresentando esta cena musical aqui no Urbanascidades.
Um grande abraço aos amantes da música,
Paulo Bettanin.
PS.: Na prorrogação do jogo a Sílvia, arquiteta, amiga e companheira me intima a incluir uma dupla formada pelo Humberto (Engenheiros do Hawaii) e o Duca (Cidadão Quem), chamada Pouca Vogal. Uma síntese de tudo de bom que se fez e se faz no Sul. Boa lembrança!
Visite as fontes:
Um comentário:
Sei que suas escolhas foram boas só que o som não sai nem aqui nem no not, nem na casa da vizinha.
Beijos!
Postar um comentário