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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Carnaval de 1927

Carnaval. Em tempos de aquecimento global, abro o jornal, ligo a televisão ou o rádio e todos estão mobilizados para mais uma operação de guerra, o FERIADÃO. Policiais, repórteres, psicólogos e comentaristas informam tudo que precisamos para enfrentar mais uma odisseia rumo ao litoral sul ou norte. As concessionárias das estradas pedagiadas preveem novo recorde de circulação rumo ao paraíso do litoral gaúcho e catarinense. Em pauta o estado lastimável de nossas rodovias, a necessidade premente de novas ampliações e de maior segurança para os usuários. Mister providenciar o provisionamento de víveres e todo tipo de penduricalho eletrônico, transferindo para as antes pacatas e tranquilas praias todo o caos e stress metropolitano, e devolvendo aos porto-alegrenses que resistiram a tentação, o espaço necessário para respirar e vivenciar a nossa cidade.
A preparação da viagem tornou-se uma operação de guerra comparável às planejadas pelas maiores nações do mundo "desenvolvido". A equipe é formada, tarefas são delegadas, a logística conferida, suprimentos armazenados, comunicações verificadas, todo o planejamento revisado. Acondicionar toda esta parafernália de equipamentos e produtos, mais a célula familiar e seus agregados como o namorado da filha mais velha, a sogra, o tio carona, felinos e caninos, todos zipados como aquelas antigas competições para lotar fuscas.
Para os que resolvem permanecer na cidade nos dias de folia de Momo, e gostam de festejar os dias e noites de folia, as opções são os bailes dos clubes sociais, acompanhar os desfiles das escolas e tribos carnavalescas nas arquibancadas, participar dos blocos e dos carnavais de rua em várias partes da cidade ou acompanhar em tela plana e digital os desfiles e festas pelo país do Carnaval.
Mas, se fosse possível viajar no tempo e retornar para o ano de 1927, como festejaríamos o carnaval em Porto Alegre?
Confortavelmente instalados no Grande Hotel, na esquina da Rua da Praia com a Payssandu (atual Caldas Junior) meus primos José, Paulo e eu nos jogamos nas confortáveis camas com lençóis alvos e engomados para nos recuperarmos da estafante viagem de trem que nos trouxe do interior de Jaguarão, no extremo sul do estado, junto ao Uruguai, distante 440 km da capital. O agradável perfume das árvores da Praça da Alfândega nos trás lembranças do nosso agora longínquo rincão, de nossas brincadeiras na fazenda. Com ordem expressa de meu pai e tio de aproveitarmos todas as belezas da cidade grande, faltam-me forças para dirigir-me até a varanda de nosso quarto e acompanhar o footing na Rua da Praia. Na chegada à estação central, quando falamos para o chofer da condução que iríamos para o Grande Hotel, este nos olhou com uma expressão gaiata e deve ter pensado: vou explorar estes matungos. Acredito que deve ter feito algumas voltas desnecessárias para nos conduzir ao centro da cidade, e quando nos apresentou a despesa levei um susto. Paguei contrafeito, mas esqueci o prejuízo com a chegada dos carregadores e espichando o olhar para a majestosa fachada eclética com sete pavimentos que nos foram conduzindo pelo requintado lobby em frente à Praça da Alfândega, com sua suntuosa escada e, surpresa, dois elevadores laterais. Com receio e curiosidade, depois de registrados, penetramos no elevador e nos sentimos flutuando no ar até o andar onde localizava-se nosso quarto. Extremo luxo, os nossos aposentos era um dos três privilegiados quartos que possuíam banheiro privativo dos vinte que compunha cada andar. Logo nos daríamos conta que a escolha pelo quarto com vista para a praça, além da beleza natural, teria um atrativo extra: o fato de situar-se para norte, enquanto os quartos para a Rua Payssandu localizavam-se para oeste, onde o calor era insuportável, dito por uma das arrumadeiras do hotel.
A nossa intenção inicial era hospedarmo-nos no Majestic Hotel, onde meus pais estiveram há alguns anos. O projeto do jovem arquiteto alemão Theo Wiederspahn, cuja proposta inicial havia sido embargada pelo presidente Borges de Medeiros em função do alto risco estrutural das passarelas sobre a travessa Araújo Ribeiro, havia sido finalmente liberada, e a ala leste do prédio encontrava-se em construção. Apesar de bem frequentado por filhos de famílias do interior como a nossa, que vinham para a capital estudar, casais de bom poder aquisitivo que estabeleciam residência no hotel, militares e figuras importantes da política e das artes, nos hospedarmos na ala Oeste, já em funcionamento, com os ruídos da obra na ala Leste não nos pareceu conveniente.
Já recuperados da longa jornada de trem desde o interior, resolvemos explorar o entorno do hotel. Descendo ao lobby, consultamos o atendente sobre as possibilidades de divertimento. À tarde, disse-nos ele, os hábitos envolvem o footing pelas ruas principais ou frequentar os cafés, confeitarias e casas de chá, que ficam abertos até o anoitecer. Na esquina da Ladeira, vocês encontram o Colombo. Logo adiante, junto ao Edifício Santa Cruz, o Café Nacional, reduto de esportistas de todos os clubes e modalidades. Em frente, o Café Liberal, e pegado “A Suíça", um café que não fecha suas portas nunca.  Antes de chegarem a Rua do Comércio (atual Uruguai) localiza-se o Café Paulista, sempre com um bom conjunto musical. Na esquina da Rua do Rosário e na Praça da Alfandega na esquina com a Rua Sete de Setembro vocês encontram um dos Cafés Nacional. Os políticos reúnem-se no café América. Outra opção são os clubes sociais como o do Comércio ou sessões de cinema aqui no centro nos cinemas Cine-teatro Guarany, Central e Carlos Gomes. 
-Muito obrigado pelas informações, mas e a noite, se quisermos nos divertir, o que fazemos?
Baixando o tom de voz, nosso interlocutor comenta, "sei, os becos de má-fama". Se quisermos, mais tarde ele vai nos indicar os clubes noturnos, cabarés e zonas de prostituição. Se tivermos um pouco a mais para gastar também pode oferecer clubes de jogos e cabarés de luxo. Pergunto por que ele esta sussurrando e me responde:
-“Há algum tempo foi iniciada uma campanha de “saneamento moral” do centro, com o combate à prostituição, à mendicância, ao jogo e ao alcoolismo. De qualquer forma, tudo continua igual, mas precisamos ter cuidado.”
Com as cabeças cheias do roteiro de divertimentos na capital, saímos à rua.
 "Com o progresso econômico da cidade e a necessidade de investimentos, o governo passou a tomar empréstimos no exterior, iniciando a acumulação de significativa dívida externa. Entre 1909 e 1928 Porto Alegre pediu empréstimos no valor de 600 mil libras esterlinas (mais de 10 milhões de dólares), além de arcar com a contratação de um grande número de funcionários públicos. A estrutura açoriana tem sua fisionomia fortemente alterada e as construções, até então influenciadas pela arquitetura colonial portuguesa, passam a conviver com edifícios robustos, ecléticos, com um rigor quase militar. Este programa de governo, o "Plano Geral de Melhoramentos", resultou também em uma onda de construções públicas de caráter monumental, renovando a paisagem urbana segundo a estética do ecletismo, imitada pelas elites na construção de seus palacetes, sob a influencia da prestigiada comunidade alemã. O porto foi ampliado em um projeto vasto e ambicioso, e se ergueram alguns dos mais significativos e luxuosos prédios públicos da capital, na chamada "fase áurea" da arquitetura porto alegrense. São exemplos dessa  tendência o Palácio Piratini, o Paço Municipal, a Biblioteca Pública, o Banco da Província, os Correios e Telégrafos e a Delegacia Fiscal, boa parte deles construídos pela parceria entre o arquiteto Theodor Wiederspahn, o engenheiro Rudolf Ahrons e o decorador João Vicente Friedrichs, todos de origem alemã. Os prédios apresentavam simbolismos éticos, sociais e políticos que se revelavam na decoração alegórica das fachadas.Os bustos na fachada da Bibiloteca Pública, inaugurada em 1922, representavam personagens do calendário positivista, ideologia professada pelo regime castilhista e borgista. "
Circulando pelas ruas do centro, observamos a mudança na estrutura açoriana da cidade, que tem sua fisionomia fortemente alterada pela implementação do Plano de Melhoramentos de Moreira Maciel, de 1914, que privilegia as áreas centrais, acesso dos bairros fabris ao cais do porto, alargamento e construção de novas vias, arborização de vias e remodelação de praças e parques, e a melhoria da circulação entre as zonas Norte e Sul e o centro da cidade. As construções, que eram influenciadas pela arquitetura colonial portuguesa, passam a conviver com edifícios robustos, ecléticos, ancorados nos preceitos republicanos e positivistas de alcançar o desenvolvimento harmonioso da sociedade, não descuidando da agricultura, da pecuária, do comércio e da indústria, segundo nos informou um colaborador da construtora do arquiteto alemão Theo Wiederspahn, com o qual fizemos amizade, e que nos contou a história do grande expoente da arquitetura e construção de Porto Alegre. “Chegado ao Brasil com 30 anos em lua de mel, após desavenças com o pai na Alemanha, e pelo fato de um segundo casamento não ser visto com bons olhos pelos puritanos de qualquer lugar em nossa época, iniciou trabalhando para Rudolf Ahrons, dono da maior empresa construtora da cidade, após a fracassada tentativa de emprego como engenheiro em uma companhia de estradas de ferro belga que construía o ramal Montenegro-Caxias. Com o fechamento da firma de Ahrons em dezembro de 1915 por problemas ocasionados pela guerra, Wiederspahn herdou seu legado e passou a exercer seu ofício de arquiteto e construtor independente. Vítima de vandalismo e discriminação quando alegadamente o navio Paraná foi posto a pique em maio de 1917 por submarinos alemães, precisou fechar sua firma “Aliança do Sul” e uma escola de Artes e Ofícios (Gewerbeschule), e foi colocado sob suspeição, em uma lista negra pelos “germanófobos”, vivendo no ostracismo até que os ânimos serenassem. Retomando as atividades, Theodor foi construindo uma sólida empresa com um considerável número de colaboradores. Além de obras memoráveis e inovadoras, expansões de fábricas, armazéns, filiais de bancos em cidades do interior, e residências nos bairros nobres da capital, alem de muitos outros projetos em andamento”.
A continuidade do Plano Maciel ocorreu na administração de Otávio Rocha, que desde 1924 iniciou algumas das mais importantes intervenções no espaço urbano da cidade, como a abertura da Avenida Júlio de Castilhos, alargamento e prolongamento da Rua General Paranhos (atual Borges de Medeiros), e outras.Os passeios foram substituídos por mosaicos, a rede de iluminação remodelada, obras de arte foram adquiridas para embelezar a urbe, e uma nova legislação para regulamentar as construções foi implementada.
Logo que chegamos a capital, a nossa maior surpresa e estupefação foi enxergar, em nossas andanças pelas ruas e cafés, mulheres de hábitos e roupas modernas, em espaços públicos, de cabelos curtos, muitas das quais fumando e adotando comportamentos ostensivamente transgressores. Também as encontramos nos serviços das casas comerciais ou industriais, nas práticas desportivas da Sociedade Ginástica de Porto Alegre, ou participando de outras associações, sobretudo da comunidade teuto-brasileira.
Para conseguir registrar todas as novidades que encontramos na capital, resolvo sentar à minha escrivaninha no quarto do hotel, a ao som do gorjear dos pássaros da Alfandêga, do trottoir das pessoas ao longo da Rua da Praia e dos ruídos das conversas entrecortadas trazidos pela brisa quente e úmida do verão, inicio uma longa carta aos meus pais.
“Queridos pais, escrevo somente agora porque os acontecimentos se desenrolam de uma forma frenética aqui na capital, bem diferente da nossa pacata cidade. Chegamos todos bem, nos instalamos no Grande Hotel, e estamos desbravando as belezas de Porto Alegre. Diz pro tio Mauro que o José e o Paulo estão bem, com saudades e mandam lembranças. Mando junto uma foto nossa tirada no estúdio Photographia Popular, do Sr. Carlos Gatti, na rua Marechal Floriano,130, onde pagamos por uma dúzia de retratos photo-filmes 1$500. Agora, as novidades: 
A cidade fica uma loucura em função dos folguedos de Momo. 
Na Praça do Portão, em frente ao Quartel Federal, precisaram colocar inspetores de veículos, com atribuições de dirigir o tráfego, confusão inevitável, pois era impossível, controlar o movimento e cuidar dos sinais entre um e outro. O próprio Edil Municipal, transitando pela Rua da Concórdia, pessoalmente necessitou dirigir o movimento de veículos. O tráfego na Praça da Misericórdia e do Portão foi paralisado. O da Rua dos Andradas foi desviado pelas ruas Riachuelo ou Duque de Caxias, depois pelas ruas General João Manoel ou General Bento Martins, e finalmente pela rua Sete de Setembro ou Rua das Flores, ficando assegurado o transporte em auto-onibus da população para os bairros de sua residência. Li no Correio do Povo que Porto Alegre registra uma frota de aproximadamente três mil carros, perdendo apenas para São Paulo. Outra constatação, pai, é que o asfalto começa a substituir os calçamentos de pedras irregulares. A Avenida João Pessoa foi a primeira a ser asfaltada em 1924 e este ano vai ser inaugurado um trecho de concreto na Avenida Bom Fim (atual Osvaldo Aranha). 
 A chuva de sábado causou muitos estragos, alagando grande número de ruas no centro e arrabaldes. O quarteirão da Azenha, Santana,  Arlindo e o riacho ficaram alagados, com a água invadindo várias casas. 
Estivemos no Baile da Filosofia, sábado, no Teatro São Pedro. Baile de gala, à fantasia, precedido de um corso do bloco Zigue-zague, que saiu da Intendência, passando pela Rua das Dores, Sepúlveda, Sete de Setembro, Bento Martins, Flores, Duque de Caxias, Praça da Matriz e finalmente chegando ao Teatro. À sua chegada, ressoaram calorosas palmas, com a Rainha sendo levada ao trono. O zigue-zague passando à frente do trono, entoou a bela marcha “Rainha”, a ela dedicada, com a música Valencia e versos de Paulo Gouvêa. O bizarro cordão dos Filósofos brilhou mais uma vez com toda a intensidade de sua alegria e garridice. Manteve o grandioso baile cheio de encantadora animação, com suas lindas e vistosas fantasias de mexicanos e seus elegantes pares, que entoavam juntos:
AMADA FILOSOFIA
OH! CORDÃO DA GRAÇA EM COR
SOB A BENÇÃO DA FOLIA
LEVANTA TEU BRAÇO VENCEDOR
OH! ZIGUE
OH! ZIGUE ZAGUE
ESPLENDENTE E VAGUO
TEU SONHO IDEAL
A CANTAR
A ALEGRIA
DO CARNAVAL
A IRRADIAR
EM NOSSO FULGOR

Já compramos os ingressos para a Grande festa burlesca no recinto da Exposição agro-pastoril, cedida pelo Dr. Otávio Rocha. Em um estrado armado no pavilhão da exposição todos os blocos e cordões, precedido de uma grandiosa parada carnavalesca, com mil foliões. Organizada na Duque de Caxias, quadra da Praça do Portão, sairá as vinte horas, passando pelo Lyceu, Figueira, Margem, av. 13 de maio, até o recinto da Exposição. Ali haverá jogos de confete, serpentina e lança-perfumes. A entrada custará 1$200, sendo que cinco por cento será para as obras do Pão dos Pobres e o restante dividido entre os blocos “Prediletos”, “Quem ri de nós tem necessidade”, “Espinhos”, “Rei dos Namorados”, “Fidalgos”, “Chora na esquina”, ”Atravessados”, “Passa fome e anda gordo”, ”Batutas”, “Tigres”, ”Tesouradas”, “Tesouras”, “Vagalumes”, “Ideal”, “Rei da Pandega” e ”Vampiros”. O Bloco dos Hindus Carnavalescos, sociedade fundada há poucas semanas, desfilará com três carros alegóricos que serão exibidos no próximo domingo, por não terem ficado prontos. Além da passeata farão uma festa em homenagem a Soberana e à estudantina."
Fizemos amizade com um grupo de estudantes superiores que fundou grupo carnavalesco e saiu em triunfal passeata de gala, se apresentando às dez horas na Faculdade de Direito. Usarão estupendas cartolinhas, repertório musical do gênero “Maria, Maria Antonieta”."
Outro dia caminhávamos pelas ruas do centro quando levamos o maior susto com um automóvel Studebaker que tem causado alvoroço e que em cuja frente foi armado um cavalo, onde foi colocada a inscrição “o cavalo de ferro”. A descarga do motor é feita pelas narinas do animal, parecendo que ele esta bufando.
Já alugamos um automóvel para participar da tradicional batalha do jocotó no Clube Jocotó. Estão inscritos inúmeros automóveis que estarão devidamente ornamentados, dando maior realce à batalha. Um grupo daquela sociedade entoará lindas canções, ostentando originais toilletes. A batalha começará à tardinha e se realizará na Rua da Praia."
Resolvemos explorar a cidade utilizando os bondes elétricos. Com bitola padrão de 1,435 m, de fabricação inglesa ou americana, os bondes trafegam na mão esquerda. Andamos nas linhas Menino Deus, Partenon, Glória, Teresópolis, Moinhos de vento, Navegantes e São João. Todos os bondes trafegavam na mão esquerda, influencia dos ingleses, que implantaram o serviço. O engraçado é que os bondes puxavam um reboque, antigos veículos de tração animal convertidos, chamados de “operários” e que cobravam uma tarifa mais baixa, e apelidados pelo povo de “caradura”. Além do serviço de bondes, recentemente foi instalada uma linha de ônibus pertencente aos senhores Amador dos Santos Fernandes e Manoel Ramirez, e que utiliza um ônibus Chevrolet Pavão para conduzir os passageiros.
Estivemos no Café Nacional, e o assunto futebolístico era a sexta edição do Campeonato Gaúcho, disputado em fases eliminatórias pelos campeões das regiões do Estado. Nas semi-finais jogaram Guarany de Bagé (campeão da Região Sul) x Independente (Campeão da Região Fronteira) e Grêmio (Campeão da região Metropolitana/Noroeste) x Guarany de Cachoeira do Sul (Campeão da região Serra). A final foi disputada na Chácara das Camélias, e o Grêmio venceu na prorrogação por 1x0, depois do empate de 3x3. Até anotei a escalação do nosso time, que formou com Lara no gol, Sardinha e Adroaldo na zaga, no meio Telêmaco, Adão Lima, Carrilho e Domingos, e no ataque Coró, Luiz Carvalho, Esperança e Nenê.
Deve ser inaugurado este ano o Auditório Araújo Vianna, no local onde antes era a Bailante e a Hidráulica, ao lado da Praça da Matriz. Em estilo neoclássico, a céu aberto, contará com vários bancos rodeados por caramanchões de trepadeiras floridas, projeto de Theo Wiedersphan e Arnaldo Boni, inspirado em um auditório existente na Alemanha. O nome é uma homenagem ao compositor gaúcho falecido em 1916, autor de obras clássicas como “Carmela” e “Rei Galaor”. Assistimos uma apresentação da Banda Municipal na praça da Alfandêga.
Interessante também tem sido conviver com diversos personagens populares muito conhecidos na cidade, como o “Ratinho”, um músico ambulante e ator de rua, o “pretinho Adão”, vendedor de jornais que exibe suas habilidades acrobáticas, sempre acompanhado pelo cego “Alemãozinho” e a “Maria Chorona”, herdeira da tradição das quitandeiras e lavadeiras, pelo estilo lamurioso e sensacionalista de seus pregões, mulheres das camadas populares que lutam pela sobrevivência em pequenos ofícios de rua. Outra figura singular da cidade, que não tivemos a felicidade de conhecer, foi o “Príncipe Custódio”, príncipe negro do Reino do Benin, refugiado político que se instalou na Rua Lopo Gonçalves, com uma pequena corte, que se tornou um líder da comunidade negra da capital.
Quando voltarmos, vou levar a coleção de “revistas da capital” que a senhora pediu, como exemplares antigos da Kodak, Kosmos e Mascara e alguns exemplares do “Correio do Povo” e da “Federação” para o pai.
Aqui na capital também se ouve muito as rádios argentinas, e ficamos sabendo que existe uma rádio em Pelotas, a Rádio Pelotense, no prefixo POP. Até o ano passado, em Porto Alegre, existia a Rádio Sociedade Riograndense, que encerrou suas atividades por não conseguir sustentar os custos de operação.
A boa notícia é que no dia 9 de fevereiro deste ano foi criada a Rádio Sociedade Gaúcha, que deve entrar em operação brevemente.
Mãe, li no Correio do Povo, um leilão promovido pelo leiloeiro Victorino Pinto de mobiliários da família do Sr. Ivan Astor, (na Rua Jerônymo Coelho, 37, entre Bragança e av. Borges de Medeiros) que esta de mudança para Europa. Entre os itens finos móveis – elegantes conjuntos para gabinetes e dormitórios – excellente "chaise longue" – finíssima vitrine para sala de visitas – luxuosos tapetes, lindo jogo paravent, em laquet – superior carro para creança – magnífica machina para bordar e costurar "singer" – perfeita machina photographica kodack autographica, 8 x 14 – quadros – adornos – objectos de mesa – fogão em ferro nºo – utensilios de cosinha. Sala de jantar – Moderno buffet de couro, peça muito bem trabalhada, com marmores e crystaes; gracioso trinchante de modernissimo feitio, com crystaes facetados; excellente terno estofado em brocatel; cadeiras, fabricação "Gerdau"; superior mesa elástica, de louro, para sala de jantar; magnificas e finas columnas de louro, com metaes; luxuoso panno de mesa; "Ceia de Christo" em custosa moldura; finissimo tapete de velludo, de grande tamanho; mesa auxiliar de louro, desarmavel; infinidade de objectos de mesa, dentre os quaes se destacam os seguintes: porta-copos com guarnição de metal; chicaras de porcellana japoneza para café; galheteiros, licoreiros, saladeiras, bons talheres, pratos, terrinas, sopeiras, centro de mesa com metaes; fruteiras, pratos para gelados, vidros para balas, copos para água e vinho; cálices para licor, etc.
Sei que se estivesses aqui estaria interessada em arrematar algumas peças para nossa casa.
Também estive na Loja Sloper, na Rua da Praia, do outro lado da Praça da Alfândega para comprar a tua encomenda, mãe, e diz pro pai que o dinheiro que ele mandou para comprar um relógio na Casa Masson não foi suficiente, mas passei na A.J. Renner e comprei uma capa de lã para enfrentar o frio, as chuvas e o minuano da nossa terra. Na Livraria do Globo adquiri todos os livros que havias pedido, vão fazer um grande volume nas malas em nossa volta à Jaguarão.  
Tínhamos muito mais para contar, mas precisamos nos despedir porque vamos a uma sessão de cinema no cine Orpheu,assistir o curta metragem “Em defesa da Irmã”, drama dirigido por Eduardo Abelim, da produtora gaúcha Film.
Com saudades, do teu filho querido".

Fontes de pesquisa:
Os antigos hotéis de Porto Alegre, texto de Sílvia Lopes Carneiro Leão;
Theo Wiederspahn: o arquiteto do MARGS e de Porto Alegre, texto de Günter Weimer;
O circuito social da fotografia em Porto Alegre (1922 e 1935) texto de Zita Rosane Possamai;
A imprensa sul-rio-grandense entre 1870 e 1930, texto de Antonio Hohlfeldt;
Representação do feminino na revista do Globo nas décadas de 1930 e 1940, texto de Joana C. Schossler e Sílvio M de S. Correa;
Os cafés na vida urbana de Porto Alegre (1920-1940), texto de Bernardo Lewgoy;
http://www.carlosadib.com.br/;
http://lealevalerosa.blogspot.com/
 Wikipedia.

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