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O modo long-play do Urbanascidades, desde 02.02.2012.
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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Laudas de Inutilidade


Trabalho/Escravidão/Progresso/Solidão/Desencontro/
A rima fácil é a mais difícil
Muito a fazer,
O que fazer
Querer fazer
E não saber
O que mais ser
Ser um em dois, ser dois nenhum.
O calendário dos anos, algemas e grilhões, aprisionaram-me em suas teias, sugaram o meu eu. Há muito tempo não expresso sentimentos, mesmo doloridos.
Preciso acionar o botão que abra as comportas, reencontrar meu destino, seja qual for, como for, onde for.
Quebrou-se a moldura. Antes, o sonoro ruído do estampido nas costas ecoou, chibatadas de odioamor, grito-desespero, dos que com palavras não expressam a dor de não poder simplesmente amar, sem exigências nem cobranças. A lente míope jaz no chão para evidenciar e escancarar a cegueira humana.
Amargo sabor de leite talhar,
delei teta lhar,
de lei tetalhar.
Amor defender porque defender razão ainda há?
São tantas questões a tantos corroer, procuram corromper, não permitir a tudo florescer. Que mundo é este em que fui me meter, feliz não serei, paz não terei.
Bárbaraidade, quarenta pedras se aproximam, desviar ou encarar?
Pedras rolantes rolam viajantes, sublime esforço pra que explicar o que jeito não há, pra que definir, melhor definhar.
Vinagre demais na vida demais não obstante o que fazemos não suficiente. Ostrassomos. Dentro, pérola de rara beleza; fora, casca impenetrável, ostra cismos. Na natureza, os maiores ensinamentos: pobre humano, frágeis tentativas de desvendar seus segredos.
Projetar vida, conceber vida, gerar vida, cuidar vida. O seio da vida é laço que não desfaz. Sexo, poder, religião, faces multiplicadas e facetadas do viver.
A odisséia humana? Enganar, roubar, maltratar, vilipendiar, humilhar, aniquilar, destroçar. Vida longa aos animais!
O universo muda, mudamos o inverso do universo?
E se acaso você chegasse, o que faria eu com os destroços do meu existir?
A vida que se leva nos leva ao caos. A encruzilhada se aproxima, que caminho tomarás? Irás sozinha? Quem te seguirá? O que levarás? Onde chegarás?
A vida que se leva nos eleva aos cascos das cervejas sem retorno.
One way, e sempre o mais espinhoso, tortuoso, rancoroso, deprecioso.
Acabou o papel, não faz mal, limpa a “m” da vida com jornal. O jornal tá caro...

Porra, que porre. Este piscar intermitente, esta puta pauta virtual em branco no monitor, esta sopa de letrinhas no teclado, este mouse, mudas testemunhas de um delito hediondo, o mais bárbaro dos crimes, a falta de criatividade de um escritor. Escritor? É muita pretensão, seu bosta de merda. E dizer que te pagam, miserável, para escrever asneiras. Deixa eu voltar para a outra página. Nossa, tá parecendo letra das músicas destes grupelhos pseudo-roqueiros, que tocam um ou dois acordes, colocam umas roupinhas transadinhas e fazem interlace para ficarem cabeludos. Vai enganar outro, o panaca, tu também ficava, adolescente, mascando clichê e cantando num inglês inteligível "Au meni rouds mets iou men ocdaun...
Pensa no leitinho das criancinhas, (Que crianças? Que leitinho?).
Eu tenho prazo para fechamento da revista. Meu editor me mata se eu não entregar alguma matéria com o mínimo de conteúdo até o final da semana. Pensando bem, e analisando friamente a questão, nível não é o que mais encontramos nas publicações de nossa amada pátria Brasil.
Sensacionalismo barato é do que mais elogioso podemos classificar o nosso jornalismo. Reportagem-Denúncia, conforme os interesses dos donos do poder, visíveis ou ocultos. Colunismo social, para quem pagar melhor os focos das objetivas e todas as distinções. Sexo, só com arte, a arte de ganhar dinheiro vendendo imagens. E os artigos?
Voltando ao carpaccio.
Tema recorrente é o que mais acontece comigo. Fico dando intermináveis voltas, perseguindo meu próprio rabo, sem conseguir alcançá-lo.
E estas grandes figurinhas carimbadas pensam que me enganam. Encontram uma fórmula mágica e ficam clonando eternamente, mudando somente as situações e personagens. Pelo menos reconheço a mediocridade da minha existência e me contento com míseros subornos que sustentem meus pequenos vícios.
Uma luz! Minha coleção de gibis por uma inspiração. Não precisa ser aquela inspiração, até abro mão dos meus quinze minutos de fama em troca de qualquer idéia inteligível/decifrável/deglutível/comestível.
Miseráveis! Exigem que eu vomite, diariamente, minhas entranhas em alvas folhas de papel, expondo meus mais profundos medos, decifrando para os preguiçosos leitores os mistérios de todas as vidas, conduzindo suas existências qual novela de costumes sem direito a final feliz.
Vingança! A preferida por mim será, ao longo de minhas crônicas, conduzir os incautos leitores a desvios comportamentais, vielas sem saída, armadilhas semânticas, quartos escuros, labirintos mentais e, com alguma sorte, pelo inusitado de minhas apreciações, impactar os críticos de concurso e obter láureas, reconhecimento e metal sonante.
Pronto. Missão cumprida, laudas e laudas de inutilidade.
Paulo Bettanin

Um comentário:

Inaie disse...

texto complexo e profundo...pra refletir

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