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domingo, 12 de fevereiro de 2012

cronica - Ode a Menor Abandonada


Olhando e minha volta, custo a acreditar. Anteriormente, as ruas de Porto Alegre eram minha casa. Presentemente, moro em uma cobertura triplex em um bairro chique. Anteriormente, meu quarto era um beco fétido e escuro. Presentemente, durmo em uma cama confortável. Anteriormente, restos de papel e lixo. Presentemente, paredes limpas, móveis e objetos, cores e texturas projetadas por decorador. Anteriormente, mofo sujeira e esgoto. Presentemente, perfumes do campo, asseio e beleza. Anteriormente, vagava pelas ruas sem rumo. Presentemente, aquecida pelo ar-condicionado e por minhas roupinhas de grife, compradas em lojas da moda, com direito ao uniforme completo do meu time do coração. Falando nisso, avisto na parede, em uma linda moldura dourada, minha foto no meio do campo, junto aos atletas do meu glorioso time, ostentando minha carteirinha de dependente de sócio. Um dos momentos mais agradáveis durante a semana são os passeios ao shopping center para renovar meu guarda-roupa. Para o verão, prefiro as bermudinhas e as camisetas pólos, ou marinheiro, bandana e não esquecendo, é claro, uma capa de chuva para as intempéries. No invernos os itens básicos incluem blusão com capuz, camiseta moleton e uma capa de flanela ou dupla-face. Anteriormente, higiene somente quando chovia ou me refrescava nos laguinhos dos parques e praças. Presentemente, prolongados e relaxantes banhos em banheiras de hidromassagem com xampus e condicionadores manipulados especialmente para mim, escovas, manicuras e pedicuros em salões, cortes e tinturas em meus cabelos. Anteriormente, o exemplo das más companhias. Presentemente, professores particulares, personal trainers. Anteriormente, comia restos e sobras, passando longos períodos sem me alimentar. Presentemente, seis refeições balanceadas por dia, estabelecidas por nutricionista. Anteriormente, assistia meus amiguinhos morrerem sem assistência ou cuidados. Presentemente, possuo plano de saúde e odontológico, visito o médico regularmente, consumo vitaminas e suplementos alimentares.
O som de minha tv de plasma com programação paga é perturbado pelos ruídos produzidos por minha mãe na cozinha. Quando penso em meus amigos vagando pelas ruas sem família, sem lar, sem proteção e carinho, torço para que eles tenham a mesma sorte que eu. Minha mãe adotiva é maravilhosa. Ela me ama com todas as suas energias, me cobrindo de atenção e zelo, preocupando-se com os menores detalhes para me fazer feliz. Adoro nossos momentos de intimidade, quando ela pronuncia doces palavras ao meu ouvido, me acaricia e, deitado em seu generoso colo, me deixo ficar até dormir em seus braços. Outro momento maravilhoso são as nossas idas ao parque, quando caminhamos juntos, sentamos nos bancos de madeira e dividimos um pacote de pipoca, e ela me beija na boquinha e acaricia minhas costas. Mas o melhor momento é quando ela permite que eu corra livremente e vá brincar de pega-pega e de luta com meus amiguinhos. Como toda a mãe, ela é superprotetora. Sempre preocupada com minhas brincadeiras, teme que eu vá me machucar. Muito exibida, comenta com suas amigas que sou o melhor, mais inteligente, mais carinhoso e prestativo filho do mundo. Talvez por ser única, esteja sendo muito mimada. Não que eu não goste, mas às vezes esse amor extremado me sufoca. Agora está procurando um namorado para mim. Além de muito jovem, estes relacionamentos arranjados me desagradam. Preferia escolher sozinha meus amigos e amores.
Chega de conversa, aproxima-se o almoço, e já estou ouvindo meu nome ser chamado, e hoje teremos os meus pratos prediletos, ração "Excellence cães médios" sabor carne e arroz e ração super premium úmida importada da França, sabor frango.

Ode a MENOR ABANDONADA
O de MENOR ABANa O rAbO
Ódio MelhOR ABANá O Rabo
O de MENOR ABANa
DONA DÁ
À MENOR NADA
NADA


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