Em tempos “informáticos”,
passada a primeira década do século vinte e um, o calendário digital avança
inexoravelmente rumo ao futuro. Brinquedinhos tecnológicos substituem a
convivência humana, as redes sociais dão o norte das relações, a impessoalidade
virtual determina comportamentos. Todos temos pressa, ligeireza nos
relacionamentos descartáveis, aceleramos no consumo das novidades,
ultrapassamos a velocidade da luz na busca da felicidade mediática, cinco
segundos de fama nos acessos virtuais. Quanto mais expectativa e prolongamento
desta vida nos propiciam, maior nosso esforço em encurtá-la, física e
emocionalmente. Cigarros, bebidas, drogas, automóveis transformados em
carrascos seivam vidas a todo instante, promiscuidade e devassidão, sedentarismo
e violência, vidas sem valor trocadas por pedras de crack, líderes que
tornaram-se modelos e paradigmas do que não fazer, mentem, roubam,
locupletam-se, juventude sem rebeldia ou idealismo, qual futuro em suas mãos,
educação que analfabetiza, cotas nivelando para baixo, futuros profissionais
despreparados, mestres especialistas em greves, reivindicações e licenças, facas e revolveres substituem
livros e canetas nas mochilas dos alunos, a saúde fenecendo nos corredores
fétidos de nossos hospitais e centros de saúde, médicos e atendentes
transformados em sobreviventes na desordem do assistencialismo público,
aposentados prostituem a melhor idade em financiamentos, trabalhos indignos e
desgastantes, irmãos de rua chafurdam a sobrevivência nos restos da civilização,
dessemelhantes minorias raciais, políticas, étnicas e religiosas disputam o
poder, as economias e nações esfacelam-se vitimas da volatilidade do capital
sujo sem face ou nome, credores do caos da
humanidade.
A profecia já realizou-se. Aos
que pressagiam o fim do mundo, recomendo que girem em volta de si mesmos e
observem o entorno. O MUNDO ACABOU!
Na contramão da Highway de
final de festa, uma parcela da humanidade esta construindo uma nova sociedade
sobre os escombros retorcidos a ainda fumegantes do período que se extingue.
Antigos valores e conceitos são recuperados, a consciência ambiental deixou de
ser moda para tornar-se vital como o ainda poluído ar que respiramos, a
tecnologia do bem melhora e potencializa as condições de vida, conceitos que colocam
o humano acima da técnica, qualidades como honestidade, gentileza, justiça,
retidão começam a florescer sob o concreto da indiferença, toda a
instrumentalização das redes sociais sendo utilizada para disseminar uma nova
ordem opondo-se ao “status quo”.
Sentado em meu escritório,
envolto no redemoinho das obrigações diárias de trabalho e sobrevivência,
conquisto um tempo para, através da janela, observar o esforço hercúleo de um
sabiá para construir o lar de seus futuros filhotes em uma árvore em meu
jardim, com folhas secas de bambus e gravetos. Concluída a obra, o vigilante
futuro papai cerca de cuidados sua companheira. Após o nascimento, além do
provimento material da prole, toda a cultura e conhecimento adquirido pela
espécie desde o inicio dos tempos será transmitida aos herdeiros, e por estes
aos seus.
Para nós, pobres mortais que
procuramos na pirotecnia das filosofias, nos gurus de ocasião ou em máquinas
que deveriam nos servir e não escravizar, o “sentido da vida”, esquecemos de
aprender com os ensinamentos que a pródiga natureza nos oferece em singelas e
sábias pinceladas, em um imensurável e inestimável livro virtual de auto-ajuda.
Sugiro que façamos pequenos
treinamentos para exercitar a nossa humanidade. Garanto que não serão
necessários grandes equipamentos ou esforços físicos. Vamos começar ajudando
pessoas com dificuldades de locomoção e deficientes visuais a encontrarem e
seguirem seus caminhos. Aos motoristas, recomendo respeitarem faixas de
segurança e sinalização, repetirem indefinidamente os exercícios da paciência e
gentileza, abolirem a pressa e os maus hábitos, pois todos chegaremos aos
nossos destinos, de preferência terrenos.
O exercício do compartilhamento
de nossas conquistas materiais com os menos afortunados é um excelente
exercício de humanidade, pois sempre amealhamos mais do que necessitamos, e o
pouco que oportunizemos aos necessitados nos garantem uma satisfação
inenarrável.
Nos espaços públicos, exercitar
o sorriso e as boas maneiras, argumentos lógicos e racionais sobrepujando-se à
força bruta e grosseria, respeito ao espaço e liberdade dos outros,
independente de condição social, raça ou credo, pois somos todos feitos da
mesma matéria, com armaduras diversas e distintos adereços e complementos, que
não conseguiremos levar conosco quando cumprirmos nossa tarefa nesta
existência.
Em nossa privacidade, colocar
de lado a inveja, a ganância, o ciúme e a indiferença. Cultivar a amizade e a
convivência entre os de mesmo sangue parece básico, apesar de compulsório. Não
delegar a terceiros contratados a educação e formação de nossos filhos, nem
despejar nossos antecedentes em depósitos de idosos, onde serão sumariamente e
convenientemente esquecidos. Lembrar sempre o que motivou dois estranhos a
constituírem uma família, não buscar a solução fácil da desconstituição da
relação por qualquer dificuldade, pulverizando a matriz em outros subgrupos
que, dispersos em outros relacionamentos, transformam-se em uma grande colcha
de retalhos. As amizades sanguíneas nem sempre são as melhores, pois as
afetivas são fruto de escolha pessoal e, portanto, mais verdadeiras.
Concluindo, o novo é o
.....velho! Sim, os antigos valores da humanidade estão de volta. Não em um
revival saudosista, mas construídos a partir de toda experiência acumulada ao
longo da linha do tempo decorrida, respeitando as conquistas e avanços dos
seres humanos, agregando as aquisições tecnológicas, comportamentais e das
relações, revolucionando a existência em um novo Big Bang, uma explosão atômica
que varrerá da Terra os arcaicos e deturpados valores atuais, criando um
terreno fértil para a semeadura de uma nova gênese, profícua e rica, material e
espiritualmente.
Para ilustrar o texto acima, "Eu tenho um sonho" discurso proferido pelo militante pacifista Mather Luther King em agosto de 1963 para 200000 pessoas em Washington e a letra e música "God", de John Lennon,quando ele declara que "o sonho acabou".
Para ilustrar o texto acima, "Eu tenho um sonho" discurso proferido pelo militante pacifista Mather Luther King em agosto de 1963 para 200000 pessoas em Washington e a letra e música "God", de John Lennon,quando ele declara que "o sonho acabou".
5 comentários:
Amigo Paulo, teu texto é inspirador! Me tocou...e traduziu em palavras sentimentos vividos em Machu Picchu.
O discurso de Luther King, emocionante..os sonhos não acabaram...
Obrigada! Abraço da juterra.
Conquanto alguns sonhos terminem, outros tantos começam.
"Molhar o frágil e indeciso pulso
com água terrivelmente gelada,
parece sempre melhor recurso
do que o terrível de cortá-lo
com faca enferrujada." César
Bela e oportuna crônica meu amigo, você além das palavras bem colocadas, nos faz refletir. Abraço
"As espécies que não desenvolveram a escrita valem-se da memória instintiva. O salmão sabe o caminho do lugar onde nasceu sem ter que consultar um parente ou um mapa.(...)Já o Homem pode ser definido como o animal que precisa tomar nota."
Luís Fernando Veríssimo
[gostei muito de sua forma´pensamento e do video]
abraço
Olá Paulo,
Belas palavras. O humanidade realmente está passando por uma mudança radical nos relacionamentos e pensamentos. Não sei se sou otimista quanto ao resultado dessas mudanças, mas que todos temos mais oportunidade de expôr nossas idéias, mesmo que diluídas nesta imensidão que é a internet, ela existe e muitas vezes dá resultado. Então vamos continuar lutando para que este mundo realmente mude para melhor, comunicando nossos valores.
Um abraço,
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