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segunda-feira, 26 de março de 2012

Artigo - A História da Arquitetura em Porto Alegre

PORTO ALEGRE, O INÍCIO
Os primeiros habitantes da região onde localiza-se Porto Alegre pertenciam ao grupo indígena guarani, instalados ao sul, pelas margens do” Guaybe”. Ao norte, pelas margens do Gravataí, (atual Bairro Passo da Areia) localizavam-se os Tapi-mirim (moradores da pequena aldeia), adversários dos tapi-guaçu (moradores da grande aldeia), residentes na outra margem do Rio Gravataí.
Estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas de 1494, o domínio português terminava onde hoje localiza-se a cidade de Laguna, Santa Catarina, pertencendo o Rio Grande do Sul a Coroa espanhola, ocupada por jesuítas na região conhecida como Missões. Entre 1580 e 1640 Portugal foi subjugado pela Espanha, extinguindo-se os limites do tratado. Como não havia um grande interesse de nenhum dos dois países pela região, os portugueses passaram a percorrer o estado e estabelecer estâncias de súditos de portugueses, retomando sua soberania.
No início da colonização, como não existia um sítio urbano estabelecido, os estanceiros da região aproveitavam as margens do Guaíba como meio de ligação com cidades como Rio Grande e Rio Pardo. Esta região era conhecida como campos de Viamão, distrito de Laguna (Santa Catarina), e foi escolhida por estender-se por longas distancias planas, grandes bacias ribeirinhas que desmbocavam no rio Jacuí, ilhas com abundante vegetação e uma grande massa de água potável, o Guaíba. Até 1740 conhecido como porto de Viamão, a área foi concedida a Jeronimo de Ornellas, tropeiro originário da Ilha da Madeira, como sesmaria, passando a chamar-se “Passo do Dorneles”. Segundo o historiador Walter Spalding localizava-se na foz de um pequeno riacho, onde hoje localiza-se a Ponte de Pedra do Largo dos Açorianos.
No início, Jeronimo de Ornellas não tinha intenção de estabelecer um povoamento, mas utilizar os campos para recolher o gado, reproduzi-lo e posteriormente comercializar os animais na região de minas Gerais, ou através de contrabando para o exterior. Ao receber em 7 de dezembro de 1744 Carta Régia confirmando a posse das terras, intensificou a criação de gado e, incomodado pela ocupação dos açorianos na Ponta da Península, vendeu-as para Ignácio Francisco, tornando-se esta área a primeira desapropriada para demarcação de áreas agrícolas e ruas da futura Porto Alegre. Tendo construído uma casa no alto do morro Santana, trouxe para cá seus parentes e agregados, constituindo uma comunidade de aproximadamente 100 almas.
O governo português, preocupado com a disputa com os espanhóis pela região após o Tratado de Madrid (1750) e necessitando reduzir o superpovoamento das ilhas dos Açores, enviou em 1752 os primeiros casais açorianos para o então Porto de Dorneles, que passou a ser conhecido como o “Porto dos Casais”, servindo posteriormente de apoio a ocupação de outras regiões do Rio Grande do Sul. Com a tomada pelos espanhóis em 1763 da Vila do Rio Grande, os portugueses navegaram pela Lagoa dos Patos, transformando Viamão por uma década em capital da província.
Em 1752 o governador José Marcelino de Figueiredo transferiu a sede da Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul para o então Porto dos Casais, escolhido por sua posição estratégica. Nesta época, a capital era um atracadouro nas sesmarias de Jeronimo de Ornelas de Menezes e Vasconcelos, Sebastião Francisco e Dionísio Rodrigues Mendes, e de alguns imigrantes instalados na rua da Praia. Tratava-se de 3 estâncias que ocupavam áreas de mais de 13 mil hectares cada uma, estendendo-se desde o rio Gravataí até o arroio do Salso, tendo como limite ocidental o rio Guaíba. As sesmarias de Jeronimo de Ornellas e Sebastião Chaves eram divididas pelo arroio Dilúvio (chamado em alguns trechos de “do sabão”, “da Azenha”, “do riacho” e “do riachinho”). As terras de Sebastião Chaves e as de Dionysio Mendes eram limitadas pelo arroio Cavalhada. Dionísio Rodrigues Mendes era o dono da Sesmaria de São Gonçalo, com sede no local onde se formou Belém Velho. Tinha duas léguas de frente a fundos, e correspondia aos atuais bairros da Vila Assunção, Vila Conceição, Pedra Redonda, Camaquã, Cavalhada, Tristeza, Ipanema (parte), Vila Nova e Belém Velho.
A Sesmaria de São José pertenceu a Sebastião Francisco Chaves, que em maio de 1733 requereu os direitos sobre as terras situadas logo ao sul do Arroio Jacareí, recebendo a concessão em 30.3.1736. A sede da sesmaria era próximo ao local onde hoje se situa a Gruta da Glória. Tinha duas léguas da frente a fundos. Estão compreendidos nessa extensão os atuais bairros Praia de Belas, Menino Deus, Azenha, Santana, Partenon, Santo Antônio, Medianeira, Glória, Teresópolis, Nonoai, Santa Teresa e Cristal.
A estância de Sant’ana, de propriedade de Jeronimo de Ornellas, foi erigida nos altos do morro Santana, abrangendo uma área que acabava na ponta da península Ponta do Gasometro (anteriormente Ponta do Arsenal ou Ponta da Cadeia).
Por volta de 1752 através de proclamações publicadas em São Paulo e Santa Catarina, os açorianos foram conclamados a se deslocarem para o sul. Aproximadamente 200 açorianos se apresentaram, e destes oitenta deveriam ficar no sítio de Viamão para construção de embarcações para transporte e exploração, utilizando as margens do Guaíba para sobrevivência e alimentação. Desta forma iniciou o povoamento, com a construção de um cemitério na beira do rio e próximo da Praça da Harmonia, transferido depois para o Morro da Praia (atual Praça da Matriz). Em 1798 foi erguida uma capelinha de barro, coberta por palhas, localizada na Rua dos Andradas (onde funcionou até recentemente o cinema Guarany), em homenagem a São Francisco das Chagas. Logo que foi possível, as construções melhoraram de qualidade, seguindo o estilo típico colonial de herança portuguesa, utilizado em todo o Brasil, e que poderia ser classificado historicamente como uma derivação do Barroco.
Com o crescimento do interesse pela região, ocorreu a construção de alguns estaleiros, crescimento populacional e expansão desordenada do povoado, tornando-se necessário o estabelecimento de traçados de ruas e caminhos, distribuição de áreas agropecuárias, provocando em 26 de março de 1772, a criação da Freguesia de São Francisco de Porto dos Casais, com jurisdição própria, os primeiros serviços públicos, e a separação da freguesia de Nossa senhora da Conceição de Viamão. Eram todos os moradores, a partir desta data, porto-alegrenses, nome popular atribuído ao movimentado porto e a sua gente. O governador ordenou ao capitão de engenharia e cartógrafo Alexandre José Montanha que elaborasse a primeira planta da cidade. O que no início constituía um aglomerado de casas de palha ao longo de três ou quatro ruas, nomeadas pelo principal ou mais antigo morador, com a chegada dos casais açorianos e o início da construção de olarias, surgindo as primeiras casas de pedra, cobertas de telhas. Localizavam-se na Rua da Praia, próximo a atual ponta do Gasometro. Casinhas brancas com janelas e portas azuis se espalharam pela atual Washington Luiz, Duque de Caxias e Riachuelo.
Posteriormente surgiram chácaras ao longo da estrada da Azenha, até a ponte de madeira construída por Chico da Azenha, ocupando o atual Parque Farroupilha. Onde atualmente localiza-se a Praça de Alfandega foi construída a primeira igrejinha do povoado. Casais instalaram-se no alto da av. Independência, onde plantavam e moíam trigo.
O rio Guaíba estendia-se até a Praça da alfândega, Rua Siqueira Campos, prosseguindo até o Navegantes (Rua Voluntários da Pátria).
Os atuais bairros Partenon, Medianeira, Glória e até Itapuã haviam estâncias, que forneciam a carne e o leite para o povoado.
A primeira construção de vulto foi o Palácio de Barro, erguido em 1773, com projeto de José Montanha, para receber a administração. Concluído em 1789 e utilizado até 1896, quando foi demolido. O projeto compreendia uma construção em dois pisos e uma água-furtada, de composição simétrica (porta central com quatro janelas de cada lado), repetidos no 2° pavimentos sem a porta central. A cobertura era composta de um telhado com quatro águas. As aberturas eram em forma de arco abatido (característico do Barroco colonial), e nas aberturas superiores uma cornija ornamental em curva.
A Igreja Matriz, iniciada em 1780, e cuja construção foi ordenada na provisão eclesiástica que criou a freguesia, a partir de um projeto sem autoria conhecida enviado pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, foi o projeto mais ambicioso do início do povoamento. Projeto em estilo Barroco tardio (Rococó), simples e sem qualquer ornamento externo, composto de uma fachada de dois pisos no corpo do prédio, em esquema tripartido, com aberturas decoradas, frontão ornamental e duas torres laterais para os sinos. Internamente, a decoração em estilo Rococó flamejante e vigoroso, com um vestíbulo sob o coro, uma nave, uma capela-mor com um retábulo cenográfico ao fundo, altares secundários em nichos laterais e estatuária.
Da mesma época e erguida como os outros prédios na colina mais alta da cidade (atualmente Praça da Matriz), é a Casa da Junta, em estilo próximo ao do Palácio de Barro, com menores dimensões. Ainda existente, é a edificação mais antiga, apesar de uma remodelação executada no século XIX. Foi utilizado como sede da Assembléia Legislativa e Junta de administração e Arrecadação da Fazenda. A elite local estabeleceu suas residências em volta da Praça da Matriz.
Com a importância assumida pela nova capital, o governador passou a se preocupar com a sua segurança. Pelo rio era praticamente impossível um ataque. Por terra, em função do posicionamento do centro em uma península, ataques pela fronteira leste eram possíveis. Foi autorizada a construção de uma trincheira, e colocado um portão em um largo próximo a Santa Casa de Misericórdia, que controlava a entrada e saída dos moradores e forasteiros. A obra se prolongaram por 5 anos, concluídas em 1778.
Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, após um ano Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, praticamente sem construções e população. O governador Paulo José da Silva Gama através de cartas dirigidas à Coroa, obteve uma Carta Régia em 19 de agosto de 1806 regulamentando as quatro vilas que integrariam a capitania: Rio Grande, Vila Príncipe (Rio Pardo), Vila Anádia (Santo Antonio da Patrulha) e Porto Alegre que tornou-se a mais importante cidade dos gaúchos sem ter se tornado oficialmente uma vila, fato somente corrigido em 11 de dezembro de 1810, através do “Auto de Criação desta vila de Porto Alegre” lavrado pela Câmara Municipal. No dia 13 do mesmo mês e ano foi lavrado o “Auto de Demarcação e Declaração dos limites que ficam pertencendo a esta Vila de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre”, levantando-se na mesma data um pelorinho tosco, de pedra bruta, com aproximadamente um metro e meio.
Em 1812 seria tornada capital da Capitania de São Pedro do Rio Grande.
fontes:
http://www.portoalegreonline.net/historia.php
http://www.poasite.com/index2.php?pagina=historia.php
http://cphpoa.blogspot.com/2009/05/breve-historia-de-porto-alegre_6247.html
http://www.paginadogaucho.com.br/hist/pa.htm
http://www.indoviajar.com.br/brasil/rs/porto-alegre/historia.htm
http://pt.shvoong.com/humanities/1652721-hist%C3%B3ria-porto-alegre/
Aquarelas de Herrmann Wendroth
wikpedia

PORTO ALEGRE - SÉCULO XIX

Athayde d'Avila: Rua da Praia, c. 1880. Imagem do centro da cidade no fim do século XIX, ainda com presença maciça de casario colonial
A herança do estilo colonial se manteve forte na cidade até fins do século XIX, especialmente na arquitetura popular, onde seu perfil era muito austero, e o único ornamento era às vezes um arco nas aberturas ou um gradil de ferro trabalhado, e mais raramente um revestimento de azulejos nas fachadas. Pelas necessidades impostas pelo modelo urbano da época, as fachadas ficavam pegadas umas às outras, e podiam ser de um ou dois pisos. Seu material era o adobe ou o tijolo, com cobertura de telhas. Levavam um reboco e caiação por fora, e as aberturas tinham moldura aparente em madeira.
Casa Ferreira de Azevedo
 Um dos exemplares mais antigos que chegou aos dias de hoje desse gênero urbano de residência é a Casa Ferreira de Azevedo, infelizmente em estado ruinoso, tombada pelo Município mas abandonada pelos proprietários. A elite, por sua vez, construía casas bem mais amplas e decoradas interiormente com luxo, às vezes dispondo de extensos jardins, como o Solar dos Câmara, a mais antiga construção residencial da cidade ainda de pé, hoje transformado em centro cultural. Foi construído pelo Visconde de São Leopoldo entre 1818 e 1824, sendo bastante reformado em 1874.
Solar dos Camaras
 Na zona rural permanecia como gênero mais importante o solar, concebido como mera casa de campo ou como sede de uma propriedade mais ou menos autosuficiente. Geralmente constituía um conjunto arquitetônico composto de uma casa senhorial cercada de benfeitorias, como paióis, senzala, depósitos vários. É um bom exemplo o Solar Lopo Gonçalves, construído provavelmente entre 1845 e 1855, ainda em excelentes condições, e hoje sede do Museu Joaquim Felizardo.
Solar Lopo Gonçalves
No campo religioso, é importante a Igreja das Dores, de 1807, a mais antiga de Porto Alegre ainda sobrevivente e declarada Patrimônio Nacional pelo IPHAN. Embora sua projetada fachada colonial tenha sido modificada, seu interior está intacto, e exibe uma rica talha dourada. No retábulo principal o estilo Neoclássico já dá sinais de aparição. Uma década mais tarde seria lançada a pedra fundamental da Igreja do Rosário, demolida em 1951.
Igreja das Dores
Da mesma estética era a Capela Senhor dos Passos, mas foi remodelada como edifício Neogótico em 1909, e em 1851 foi dado início à Igreja da Conceição, traçada e decorada por João do Couto Silva, a única igreja em estilo colonial que se conservou em seu estado primitivo. Na sua talha decorativa, muito rica, se notam também traços neoclássicos.
Igreja da Conceição


 NEOCLASSICISMO E ECLETISMO EM PORTO ALEGRE

Em meados do século o Neoclassicismo já se tornara uma influência importante, e mesclado ao antigo colonial, deu origem a uma variedade de soluções ecléticas, tendência que iria dominar o panorama até a década de 1930. De perfil neoclássico o mais importante remanescente é o prédio da Cúria Metropolitana, construído a partir de 1865 com projeto de Jules Villain (ou Villiers), alterado em detalhes por Johann Grünewald, compondo um majestoso conjunto de dimensões palacianas que foi saudado por Athos Damasceno como sendo o único monumento da cidade digno desse nome:
Cúria Metropolitana
"Vasto, com seu muralhão de fortaleza arrematado no alto pela cintura rendada dos balaústres, impressionaria só pelas proporções se, ao cabo da escadaria extensa, não se erguesse, imponente, o frontão clássico triangular sobre a ordem severa das colunas lisas. (...) No centro - a área quadrada dos claustros, com as arcadas simples sobre pilares maciços, os corredores longos batidos pelo sol, e o bom silêncio conventual que leva a gente às meditações".

Theatro São Pedro
Segue-lhe em imponência, mas sobrepujando-lhe largamente a fama, o Theatro São Pedro, cujo projeto foi elaborado no Rio de Janeiro e executado por Felipe de Normann. Inaugurado em 27 de junho de 1858, com capacidade para 700 espectadores e decoração em veludo e ouro, numa época em que Porto Alegre tinha pouco mais de vinte mil habitantes, é o mais antigo teatro da cidade. Sofreu uma degradação acentuada e quase foi demolido nos anos 70, mas felizmente está recuperado. O Theatro foi concebido com um edifício gêmeo, que se levantou do outro lado da rua, o antigo Tribunal de Justiça, mas este foi consumido pelo fogo nos anos 50.

Mercado Público
Exemplo típico do Ecletismo praticado em meados do século XIX é o vasto Mercado Público, planejado pelo engenheiro Frederico Heydtmann em 1861, mas o desenho quadrangular foi alterado com ampliação das dimensões e acréscimo de torreões nos cantos. A construção teve sua pedra fundamental lançada em 1864, sendo inaugurado em 1869, e substituiu o mercado anterior, mais acanhado. O conjunto sofreu modificação substancial nos anos 10 com a adição de um segundo piso, preservando porém o estilo.
Museu do Comando Militar do Sul
De caracterização estilística semelhante são o Museu do Comando Militar do Sul, um edifício de grandes dimensões, inaugurado em 1867, construído pelo mestre-de-obras Manoel Alves de Oliveira como um anexo do Arsenal de Guerra; o prédio da 8ª Circunscrição de Serviço Militar, erguido sobre uma construção anterior que abrigava os Armazéns Reais, e o Palácio Provisório, cujo desenho, do engenheiro Francisco Nunes de Miranda, foi posteriormente modificado pelo engenheiro Antônio Mascarenhas Telles de Freitas.
Palácio Provisório
As obras do Palácio Provisório iniciaram em 1857 e o projeto incluía soluções estruturais modernas para a época, como a laje de cobertura com sistema de perfis em aço duplo "T " combinado com tijolos por compressão, formando pequenos arcos. Outro grande edifício eclético foi a Casa de Correção, mais tarde demolida, de distribuição neoclássica e detalhamento que remetia à arquitetura militar.
Hospital Psiquiátrico São Pedro
Mas o exemplo mais monumental do Ecletismo portoalegrense é o conjunto histórico do Hospital Psiquiátrico São Pedro, que segundo os técnicos do IPHAE é "a maior área edificada de interesse social que o século XIX legou à Província. Com 12.324 m2, o conjunto arquitetônico centenário é composto por seis pavilhões de dois pavimentos voltados para o sul e ligados transversalmente por um pavilhão na direção leste-oeste. Com linhas ecléticas, predomina na área histórica do São Pedro a arquitetura neoclássica".

A "fase áurea" da arquitetura em Porto Alegre
Paço Municipal
De um Ecletismo mais ornamentado é o Paço Municipal, projetado por Giovanni Colfosco, um italiano, e iniciado em 1898. Seria um dos primeiros exemplos arquitetônicos a exibir a influência do Positivismo, percebida na complexa rede de alegorias representadas na estatuária decorativa da fachada. Também seria um dos primeiros edifícios públicos monumentais do que se chamou de "fase dourada" da arquitetura portoalegrense. Segundo Beatriz Thiesen, "A reformulação da estrutura urbana, que foi um fenômeno comum ao mundo ocidental do século XIX, esteve associada às idéias de modernidade presentes no imaginário social da época. Neste sentido, também Porto Alegre inseriu-se num amplo processo ligado à emergência de uma ordem social burguesa que demandava um reordenamento da cidade segundo os novos valores surgidos em seu bojo e que, pouco a pouco, consolidavam-se no imaginário social. Procurava-se a superação do passado colonial, que a elite ascendente desejava esquecer, e as formas arquitetônicas corresponderam, assim, aos ideais de progresso e civilização: a burguesia emergente procurava espelhar-se na cultura européia, considerada mais adiantada e civilizada. (...) Numa demonstração grandiloqüente, essa burguesia buscou marcar um ethos de modernidade ostentado como estética".
Decoração na fachada da antiga Delegacia Fiscal, atualmente o Museu de Arte do RS, com as estátuas alegóricas da Pecuária e da Navegação.
Correios e Telegraphos, hoje o Memorial do Rio Grande do Sul.
Esse desejo de renovação trouxe diversas novidades para a arquitetura da cidade. Uma burguesia enriquecida formada principalmente por descendentes de imigrantes alemães, junto com as esferas oficiais, deram o impulso mais decisivo, encomendando obras suntuosas, num momento em que o estado experimentava uma fase de prosperidade, tendo se tornado a terceira economia do Brasil. As influências mais importantes que definiram o perfil dos principais edifícios erguidos nessa fase foram a arquitetura pompier francesa, com seu decorativismo exuberante e caráter ostentatório, e a filosofia positivista, adotada pelo governo, criando uma iconografia definida e idealista espelhando visões de progresso, civilização e ordem. As técnicas de construção acompanhavam o desenvolvimento da tecnologia e da indústria: faz-se uso estrutural mais extensivo do concreto armado, do aço e do cimento, os edifícios alçam-se a maiores alturas, a estatuária de fachada se multiplica e encontra soluções barateadoras para sua confecção, como os moldes de cimento. Também mudam os materiais de decoração, se tornando comuns os vitrais, os adornos em serralheria, as pinturas parietais com paisagens e ornatos nos interiores, e os mármores para colunas, pisos e outros elementos.
Os nomes mais significativos nesta fase de explosão edificatória foram Theodor Wiederspahn, arquiteto nascido na Alemanha, dono de um estilo eclético pujante e original, combinado traços renascentistas, neobarrocos, neoclássicos e uma concepção decorativa luxuosa; Rudolf Ahrons, engenheiro-construtor, líder de um escritório de construção que realizou as obras mais importantes, e João Vicente Friedrichs, proprietário do mais solicitado e populoso atelier local de decoração, empregando uma multidão de artífices locais e estrangeiros com sólido preparo, como Alfred Adloff, Wenzel Folberger, Alfredo Staege e muitos mais.
Cervejaria Bopp
 A parceria estabelecida entre eles durou até 1914, quando o escritório de Ahrons fechou, e deixou uma grande série de edifícios de grande beleza e imponência, alguns realizando feitos arquitetônicos notáveis, como o edifício da antiga Cervejaria Bopp, que em sua inauguração era o maior prédio de cimento armado do Brasil.
Correios e Telegraphos
Faculdade de Medicina da UFRGS
Edifício da Delegacia Fiscal (MARGS)
 Outros exemplos são os Correios e Telegraphos, a Faculdade de Medicina da UFRGS e o edifício da Delegacia Fiscal, cuja autoria de Wiederspahn é controversa mas parece provável. Günter Weimer lhe atribui também o traçado básico da nova Catedral Metropolitana, que substituiu a antiga Matriz, embora o crédito pelo projeto usualmente se dê a Giovanni Giovenalle. Wiederspahn continuaria projetando depois da retirada de Ahrons do mercado, ainda contando muitas vezes com Friedrichs para a decoração. Sua obra contabiliza mais de 500 projetos, realizados não só em Porto Alegre.
Edifício Ely  
 Hotel Majestic 
 Previdência do Sul 
Muitos deles já não existem, mas se preservam vários, tombados por instâncias oficiais, como o Edifício Ely, o Hotel Majestic, a Previdência do Sul, além de mais de uma dezena de palacetes para a elite. Para Maturino Luz, seu papel na história da arquitetura portoalegrense se compara, guardadas as proporções, ao de Gaudí em Barcelona, além de ele ter sido um dos fundadores de uma Escola de Artes e Ofícios e do primeiro sindicato de arquitetos. Também importante foi a formulação em 1914 pela Intendência Municipal do Plano Geral de Melhoramentos, concebido possivelmente por João Moreira Maciel, e considerado por Helton Bello o maior legado da administração positivista em termos urbanísticos, por ser um instrumento fundamental para as transformações modernizadoras que iriam se consolidar logo adiante, suplantando a estrutura e a imagem urbana de herança colonial.
Vista do centro no início do século XX. O estilo eclético substituiu inteiramente a arquitetura colonial.
Castelinho
Observatório Astronômico
Colégio Júlio de Castilhos
Viaduto Otávio Rocha
Faculdade de Direito da UFRGS
Casa Godoy
Farmácia Carvalho
Biblioteca Pública do Estado
 Palácio Piratini 
Não podem passar sem lembrança Manoel Itaqui, um dos introdutores da Art Nouveau, projetando vários prédios no campus central da UFRGS como o Castelinho e o Observatório Astronômico, além da antiga sede (desaparecida) do Colégio Júlio de Castilhos e o Viaduto Otávio Rocha, este em parceria com Duilio Bernardi; Hermann Menschen, autor da Faculdade de Direito da UFRGS e de várias residências elegantes como a Casa Godoy; Francesco Tomatis, projetista de um dos poucos edifícios puramente Art Nouveau da cidade, a Farmácia Carvalho; Affonso Hebert, cuja obra mais notória é a Biblioteca Pública do Estado, e por fim o francês Maurice Gras, autor de apenas um projeto na cidade, mas de grande relevância, o Palácio Piratini, sede atual do Governo do Estado e residência oficial do governador.
Confeitaria Rocco
Casa Torelly
Capela do Bonfim
Quartel General do Exército 

palacete Palmeiro
Banco da Província
Alguns exemplares em especial também poderiam ser citados por serem únicos em seu tipo, como a Confeitaria Rocco, com seus atlantes monumentais, a Casa Torelly, por sua delicadeza renascentista, a Capela do Bonfim, por seu Neoclassicismo tardio, simples mas puro; o antigo Quartel General do Exército, caso exótico de influência mourisca e medieval; os palacetes Palmeiro e Argentina por sua opulência; o Banco da Província, por sua majestade e riqueza, e seus vitrais; e a Usina do Gasômetro assim como a já citada Cervejaria Bopp como representantes da arquitetura industrial; o conjunto remanescente na Travessa dos Venezianos, como exemplo típico do Ecletismo simplificado, adaptado às classes populares inferiores, e finalmente o complexo do Cais Mauá, projetado por Ahrons, uma vasta obra pública que custou várias décadas de trabalhos e representou um imenso esforço do governo e da sociedade gaúcha, no início do século XX, em direção à modernização urbana e ao desenvolvimento econômico. As estruturas levantadas também estabeleceram novos padrões de higiene, funcionalidade e estética para a construção civil, sendo notáveis particularmente o grande pórtico central de ferro e os armazéns laterais, desmontáveis, que foram importados da França.
Usina do Gasometro
Cervejaria Bopp
conjunto na Travessa dos Venezianos
complexo do Cais Mauá
Dois últimos elementos estéticos que vieram acrescentar diversidade ao Ecletismo portoalegrense foram o Neogótico e a Art Déco. O primeiro ficou restrito à esfera religiosa. Presente na cidade desde meados do século XIX, suas primeiras manifestações foram discretas - uma pequena capela na Praça da Matriz, o Império do Espírito Santo, e as balaustradas modificadas da Cúria Metropolitana. O estilo só ganhou visibilidade de fato com a construção, no início do século XX, de diversos templos importantes: a reforma neogótica da Capela dos Passos, já citada, a Igreja de Navegantes, a Igreja de Santa Teresinha, a mais pura e refinada, projeto do Frei Cyríaco de São José, a Catedral Anglicana, a Igreja Metodista Central, e a Igreja de São Pedro, de todas a mais imponente, desenhada por João Hruby.
capela "o Império do Espírito Santo"
 Igreja de Navegantes
 Igreja de Santa Teresinha
 Catedral Anglicana
 Igreja Metodista Central
Igreja de São Pedro
fonte:wapedia

DÉCO E MODERNISMO

Acima, Mercado Público (demolido) e abaixo Ceasa
 Adepta da Déco foi a geração seguinte, onde se destacaram Fernando Corona, Armando Boni e Joseph Lutzenberger. A estética Déco abandona o decorativismo pesado do Ecletismo tardio em busca de soluções com ornamentação reduzida e mais integrada à funcionalidade e estrutura dos espaços, o que, junto com avanços na técnica construtiva, possibilitou o início do processo de verticalização da cidade. Suas obras refletem essa síntese nova, uma nova visão de progresso e de beleza ligados à simplicidade, racionalidade, praticidade e autenticidade estrutural, idéias que seriam levadas a uma radicalização com os modernistas. A presença Déco foi detectada entre os anos 20-30, antecedendo o Modernismo arquitetônico na cidade em cerca de 10 anos.
Corona iniciou como escultor, aluno de Friedrichs, mas logo aventurou-se na arquitetura, com bons resultados. Foi dele a adaptação do exterior de um projeto de Wiederspahn para o Banco da Província, atualmente o Santander Cultural, e mais o projeto da Galeria Chaves e do Instituto de Educação Flores da Cunha.
Galeria Chaves
Instituto de Educação Flores da Cunha
 Boni criou o edifício da Livraria do Globo, a Concha Acústica do antigo Auditório Araújo Vianna e o Cemitério São Miguel e Almas, o primeiro cemitério vertical da América Latina, além de várias outras obras públicas e privadas, como a sua própria residência.
 Auditório Araújo Vianna
Livraria do Globo
E Lutzenberger veio da Alemanha para trabalhar na construtora Weis & Cia, projetando prédios importantes, tais como a Igreja São José, o Palácio do Comércio e o Instituto Pão dos Pobres.
Instituto Pão dos Pobres
Igreja São José
Palácio do Comércio
 As obras dos três criadores foram saudadas pelos seus contemporâneos como marcos da arquitetura mais moderna e arrojada, e permanecem entre os mais significativos exemplares da arte edificatória na cidade no período entre-guerras, sendo várias delas tombadas pelo poder público.Mas de acordo com Davit Eskinazi, foi só a partir de meados da década de 30, mais precisamente por ocasião da Exposição do Centenário Farroupilha em 1935, que começaram a surgir no cenário urbano de Porto Alegre os primeiros exemplares de uma arquitetura moderna:
"Conciliando a arquitetura efêmera de seus pavilhões com alguns elementos permanentes do futuro Parque Farroupilha construídos na mesma oportunidade, a Exposição do Centenário apresentou-se como o principal símbolo da modernidade possível e desejável para o Estado, em um período de profundas transformações para a sociedade brasileira. Amplamente apoiada em recursos tecnológicos, como a deslumbrante iluminação noturna dos espaços e pavilhões do evento, e conduzida por uma bem informada retórica déco, a Exposição articulou um notável conjunto arquitetônico e urbanístico que sintetizou uma visão de modernidade comprometida com a tradição neoclássica, provocando um impacto visual sem precedentes sobre seus contemporâneos. (…) Embora efêmera, a arquitetura produzida para a comemoração do Centenário Farroupilha constitui um testemunho consistente das origens de um possível "caminho riograndense para a arquitetura moderna", percorrido através de um conhecimento inspirado e bem informado, tanto das manifestações protorracionalistas do "novecentos", como, por exemplo, o movimento da "Secessão" austríaca, quanto das correntes não ortodoxas da arquitetura moderna, como os movimentos expressionista e futurista das primeiras décadas do século XX".
Nos anos 30 o antigo Plano Geral de Melhoramentos já estava obsoleto, e a cidade exigia uma nova organização. Edvaldo Paiva e Ubatuba de Faria, funcionários do município, e Arnaldo Gladosch, contratado no Rio, esboçaram alguns ensaios de reorganização da malha urbana central de acordo com os princípios modernos, mas nenhum se implantou em plenitude. Paralelamente foi ideado outro modelo para a expansão periférica e horizontal da cidade. Vários bairros ou loteamentos residenciais surgidos principalmente nos anos 1930 e 1940 propuseram uma interpretação local do protótipo da "cidade-jardim", com um traçado orgânico, construções isoladas em baixa escala e densa vegetação, cujos melhores exemplos são a Vila Jardim, a Vila Assunção e a Vila Conceição.
Vila Conceição
Uma década depois tudo que um dia fora tradição em arquitetura parecia ter desaparecido, e a vanguarda já trabalhava apenas com formas geométricas essenciais, despojadas de todo artifício decorativo. De 1946 é um dos primeiros prédios erguidos em Porto Alegre na estética tipicamente modernista, o Colégio Venezuela, de Demétrio Ribeiro, retendo apenas traços residuais da arquitetura tradicional. Na mesma época começou a atuar na cidade Edgar Graeff, formado na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, tendo tido um contato de primeira mão com os pioneiros do Modernismo no Brasil. Seu trabalho induziu uma adoção mais ou menos geral de elementos derivados da obra de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e outros expoentes da escola carioca. Segundo Carlos Goldman, "Na década de 40 Edgar Graeff contribuiu para a evolução desta arquitetura (…). O impacto de residências como a projetada para Edvaldo P. Paiva foi um marco divisor no campo das idéias, dos costumes e da cultura arquitetônica em Porto Alegre, transpondo para o nosso contexto local estratégias e elementos de arquitetura que até então eram usadas principalmente por arquitetos do Rio de Janeiro e São Paulo. Tais propostas arquitetônicas manifestaram localmente o pensamento moderno preconizado por Le Corbusier". 
Edifício Nunes Dias, década de 30-40.
Detalhe do Colégio Júlio de Castilhos, 1953.
Palácio Farroupilha, 1955.
Outro nome de relevo, chegado à mesma altura e com a mesma formação foi Carlos Mendonça, deixando grande número de trabalhos em menos de uma década de atividade, alguns de grande porte.Em 1948 criou-se o departamento estadual do Instituto de Arquitetos do Brasil, abrindo um novo fórum de debates especializados, e 1949 se formou a primeira turma de arquitetos do Instituto de Belas Artes da UFRGS, introduzindo um fluxo agora regular de novos e bons profissionais no mercado. Chegando aos anos 50 o Modernismo já estava coroado pela oficialidade. Construções emblemáticas como o Palácio Farroupilha, assinado por Gregório Zolko e Wolfgang Schoedon, para sede da Assembléia Legislativa, e o Palácio da Justiça, projeto de Fernando Corona e Carlos Fayet, ambos fruto de concurso público, foram levantados segundo princípios totalmente modernistas. Dentre outros projetos de interesse nessa fase pode-se citar o Hipódromo do Cristal e o Edifício Esplanada, ambos do uruguaio Román Fresnedo Siri; o Hospital Fêmina, de Irineu Breitman; a sede antiga do Aeroporto Salgado Filho, de Nelson Souza; a Faculdade de Farmácia da UFRGS, de Flávio Figueira Soares e Lincoln Ganzo de Castro; e o traçado inicial do Hospital de Clínicas, de Jorge Moreira, o qual, se não tivesse sido desvirtuado mais tarde se constituiria, segundo Marcos da Silva, num dos marcos arquitetônicos da capital gaúcha. Por esta época o centro urbano já estava repleto de edifícios de altura considerável, destacando-se Emil Bered e Salomão Kruchin como autores de vários edifícios residenciais.

 CONTEMPORANEIDADE EM PORTO ALEGRE

Centro Administrativo do Estado do Rio Grande do Sul, 1971
A rápida expansão populacional começava a obrigar os urbanistas a encontrarem soluções habitacionais em grande escala. Dentre as iniciativas para solucionar o problema se destaca a construção do Conjunto Residencial do Passo D'Areia, um dos empreendimentos mais bem sucedidos de todos quantos foram executados à época, e que veio a ser declarado recentemente Patrimônio Cultural do município. No fim da década foi implantado enfim o primeiro Plano Diretor de Porto Alegre, composto por Edvaldo Paiva e Demétrio Ribeiro com base na Carta de Atenas, e que se amparou por uma legislação específica (Lei 2046/59). Para Helton Bello com este Plano se acentuou a verticalização da cidade, fazendo Porto Alegre "conhecer o maior crescimento edilício de sua história, o que alterou significativamente a morfologia urbana. (…) Os princípios básicos do Modernismo passaram a compor um instrumento legal através de parâmetros para a estruturação da cidade. Tais padrões consistiam na racionalização das atividades, das vias e na instituição de índices urbanísticos (densidade, potencial construtivo do lote, recuos e altura predial), que foram sendo aplicados segundo o crescimento das áreas urbanizadas".
Como efeito do Desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek e com o acréscimo de um sentimento ufanista gerado pelo Milagre Brasileiro depois do golpe militar de 64, o Modernismo da escola carioca perdeu gradualmente espaço para uma variante brutalista originária em São Paulo, que em torno de 1970 já era a tendência dominante em todo o país. Ela oferecia um apelo plástico vigoroso e monumental num modelo conveniente para o volume e a dimensão das oportunidades oferecidas pelo Milagre Brasileiro, quando o PIB do país crescia numa média vertiginosa de 11,2% ao ano e a ditadura militar recrudescia. A verticalização se acelerou e foram construídos na periferia extensos conjuntos habitacionais financiados pelo Banco Nacional da Habitação. No centro a administração pública realizou intervenções dramáticas, como a construção da Elevada da Conceição, mas a abordagem tecnicista dos projetos desconsiderava aspectos elementares de paisagismo urbano e favorecia a descaracterização do centro histórico, desaparecendo inúmeros edifícios ecléticos, alguns de grande valor, e os derradeiros remanescentes da arquitetura colonial, tanto residencial como pública. Em face do desrespeito oficial para com o passado, alguns intelectuais começaram a protestar contra tantas demolições, lançando as sementes para a formação de uma consciência preservacionista que lentamente iria ganhar corpo entre os portoalegrenses. E como uma ironia a evidenciar as contradições do programa ufanista do governo, nesse período começaram a nascer favelas nos vazios urbanos do entorno, e a cidade foi isolada do Lago Guaíba e do porto que lhe deu o nome com a construção de um extenso muro para prevenção de enchentes.
Faculdade de Tecnologia do SENAC, 1979.
Esteticamente os princípios modernistas continuavam em geral válidos, num desdobramento da Carta de Atenas, o que foi referendado pelo novo Plano Diretor de 1979, embora algumas inovações fossem introduzidas, tais como uma inspiração no modelo das superquadras empregado em Brasília e uma maior participação da comunidade nas decisões através de Conselhos Municipais.[20] A qualidade geral dos prédios, porém, decaiu. Por outro lado, os meios acadêmicos já iniciavam uma revisão do Modernismo e a influência de arquitetos uruguaios se tornou então significativa, introduzindo recursos técnicos inéditos como a cerâmica armada. Algumas das obras de maior projeção neste período foram o Centro Administrativo do Estado, de Charles Hugaud, Cairo da Silva e outros; a Central de Abastecimento, de Carlos Fayet, Carlos Comas e Cláudio Araújo; e os edifícios das indústrias Memphis, de Araújo e Cláudia Frota.
O Plano de 1979 não foi inteiramente bem-sucedido em sua aplicação. Estabelecendo novos índices construtivos, as mudanças deram origem a uma série de atritos entre moradores das zonas residenciais e deles com o poder público e com agentes imobiliários, pela autorização de espigões em áreas de predominância térrea, rompendo o tecido residencial de alguns bairros tradicionais por edifícios de até 20 pavimentos. A polêmica levou a uma nova reformulação da legislação nos anos 80. Foi então que se entendeu definitivamente que seria necessária uma aliança mutuamente compreensiva não só entre arquitetura e urbanismo para um crescimento geral harmonioso, sendo preciso atrair outras áreas do saber para a discussão e imaginar soluções mais dinâmicas, realistas e adaptáveis ao perfil cada vez mais fluente da sociedade, desenvolvendo-se planos estratégicos fundamentados nos eixos de estruturação e mobilidade urbana, nas formas de uso do solo privado, na qualificação ambiental, na promoção econômica e em uma série de critérios mais atualizados de planejamento, e levando em conta aspectos de memória coletiva, identidade cultural e convívio humano. O êxito das propostas nesse sentido, que se sucederam à medida que os anos passavam, incluindo novas revisões do Plano Diretor, tem-se revelado muito controverso, com avanços e recuos. Ainda existem zonas de ocupação polêmica, a especulação imobiliária continua a pressionar o poder público e influenciar decisões, e permanecem sérios problemas de habitação popular a serem resolvidos.
Paralelamente, com a criação em 1981 da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural, pouco depois vinculada à Coordenação da Memória Cultural da Secretaria Municipal da Cultura, iniciou-se um processo de estudo e resgate dos bens culturais de propriedade do Município de especial interesse histórico, social e arquitetônico, sistematizando os tombamentos municipais, que haviam iniciado poucos anos antes, em 1979. Essa atuação foi fortalecida pela instalação do escritório regional do IPHAN, cuidando dos interesses nacionais na área de patrimônio histórico em todo o estado, e da Coordenadoria do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, antecessora do IPHAE, ambas em 1979, instituições que vêm realizando na cidade vários tombamentos e ações de preservação em nível federal e estadual. Também se reconheceu a existência do "centro histórico", propondo-se medidas de conservação e desenvolvimento sustentável, o mesmo ocorrendo com outras áreas já estabilizadas como os bairros da "cidade-jardim" e zonas de especial interesse cultural. Nasceu então uma nova consciência para com os prédios antigos e as áreas verdes, e com isso se salvaram muitas edificações seculares que estavam na lista de demolições. O caso da Capela do Bonfim é exemplar nesse sentido. Depois de muitos anos de abandono e degradação, incendiou no que se suspeitou ser um fogo criminoso. Nele perderam-se elementos importantes como o altar-mor entalhado, e sob o pretexto de estar muito arruinada quase foi demolida, mas a sociedade reagiu, e toda a polêmica subsequente contribuiu para um marcar na consciência de todos, cidadãos e poder público, o valor da memória, da arte, da história e de seus testemunhos materiais. A Capela acabou sendo tombada e restaurada em 1983. Entretanto, a atuação das instâncias oficiais de preservação do patrimônio histórico ainda é frequentemente tolhida por interesses particulares contrários, pela morosidade dos processos de tombamento e por uma crônica insuficiência de verbas. Assim, ainda que os trabalhos nesse sentido tenham avançado bastante, com a intensificação das ações municipais e o recente arrolamento de mais de 130 imóveis do centro histórico pelo Programa Monumenta, do Ministério da Cultura, é preocupante que os poderes públicos tenham tardado tanto para proteger prédios da importância da Igreja da Conceição e do complexo Catedral-Cúria (tombados em 2007 e 2009 respectivamente), que imóveis já protegidos ainda sejam demolidos à revelia da lei e que um bom número de outros edifícios históricos ainda não receba qualquer cuidado oficial.
Em termos estéticos nesses últimos decênios se verificou o declínio da escola modernista e sua substituição pelos valores do Pós-Modernismo, fazendo a releitura de estilos históricos pré-modernistas e criando um novo senso de ecletismo, liberdade e democracia formal. Os exemplos mais paradigmáticos dessa tendência são os controversos shopping centers que nos últimos anos têm pontuado a paisagem, muitos deles com soluções formais ousadas, decoração extravagante e um espírito high-tech, mas cujo gosto e pertinência para a paisagem às vezes são postos sob suspeita. Alguns críticos se recusam a reconhecer uma arquitetura realmente viva no presente em Porto Alegre, não encontram mais obras que possam se erguer em referências culturais e marcos urbanos, e denunciam uma crise de identidade na produção local. Mas para outros o alto nível do debate sobre arquitetura, que atrai personalidades internacionais, o sucesso de projetos de revitalização de áreas e estruturas antigas, como a criação do Shopping DC Navegantes e o Centro Comercial Nova Olaria por arquitetos locais, e a atuação na cidade de projetistas estrangeiros de renome, como Álvaro Siza, responsável pelo prédio da Fundação Iberê Camargo, considerado uma obra-prima, bastam para indicar que a arquitetura de Porto Alegre mantém um apreciável dinamismo e está integrada ao que se passa no restante do mundo. Esta fase mais recente da evolução da arquitetura portoalegrense está, contudo, ainda carente de estudo e documentação mais aprofundados, sendo escassas as publicações qualificadas. (fonte wikipédia, fotos internet).
Sede da empresa telefônica Vivo

Fundação Iberê Camargo


Centro Empresarial Mostardeiro


Bourbon Shopping Country


Edifício Mercure

Shopping Praia de Belas


Bolsão de favela na entrada da cidade.


Conjunto habitacional popular da Vila dos Papeleiros, onde há poucos anos havia uma favela.

6 comentários:

jusseli rocha disse...

Obrigada amigo Paulo por reunir nossa história através de seus prédios. Abraços.

Ypsilon Yvone disse...

Parabéns para Porto Alegre e para você por reunir tantas informações sobre a história - Aliás, uma verdadeira aula de história mesmo.
ab.
yvone

Paulo provar que eu não sou um robô (letrinhas irritantes) podia ser dispensadas heim??

dilamar santos disse...

Nossa! Aprendi mais sobre Porto Alegre, neste estudo? Ensaio?Crônica? Não importa.Do que em anos morando na cidade. Parabens Paulo pelo Belíssimo ( e duro,suponho) trabalho!

Tais Luso de Carvalho disse...

Maravilhosa esta postagem, é para guardarmos como relíquia. Toda a cidade de Porto Alegre por aqui...
Parabéns!

Abraços
Tais Luso

Unknown disse...

Parabéns!

meperdidemim disse...

Sempre muito bom vir aqui, prefiro as madrugadas, assim tenho tempo de ver e rever tudo,passei minha infancia ai em Porto Alegre,muito bom rever lugares em que fui feliz, obrigado amigo e bjs

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